- 'Será possível confiar num Governo que tropeça de falhanço em falhanço, até à nossa exaustão final?
A semana que findou trouxe notícias boas e más.
1. O falhanço, in extremis, do estranho negócio de venda da TAP ao único candidato apresentado à privatização foi uma boa notícia. Não por não ser necessária a privatização parcial da companhia, em ocasião asada, como os socialistas sempre afirmaram, para a libertar da rigidez gestionária que acumulou, tornando-a mais competitiva. Mas porquê fazê-lo em mercado adverso e ao único candidato que apareceu? Porquê deixar prosseguir a negociação sem a garantia prévia de financiamento? Como se explica que o primeiro-ministro, horas antes, se mostrasse convicto da concretização do negócio e depois aparecessem dois secretários de Estado com esfarrapados argumentos de rejeição? Espera-se que o Governo tenha aprendido a lição e ao menos informe o país e as oposições, de como espera desatar a meada em que se enrolou.
2. A redução do spread da dívida soberana a menos de 7%, a mítica barreira de Teixeira Santos, será uma óptima notícia, se for sustentável. Todos sabemos que ela se deve mais ao anúncio salvador de Draghi, de socorro a todas as dívidas soberanas, que aos imensos sacrifícios dos portugueses, malbaratados com recessão agravada, mas mitificados pela Comissão Europeia, que necessita desesperadamente de nós como o seu caso de sucesso. Será sustentável a redução dos notadores, quando todas as componentes - défice, dívida, desemprego, recessão, exportações - se agravam? Acreditamos, realmente, que a nossa estrutura exportadora deu a volta, e que as reduções da importação se não devem apenas à redução do consumo? Seria bom que tal acontecesse. Infelizmente, a opinião dos notadores não é matéria de fé.
3. O parecer "arrasador" da Comissão Nacional da Ética para as Ciências da Vida é um acto de coragem e de denúncia de um escandaloso negócio que também entre nós tem prosperado, com a chantagem afectiva que se exerce sobre pais pouco informados, para que conservem o cordão umbilical de seus filhos em bancos privados onde a sua preservação representa um negócio nebuloso pela obscuridade científica que paira sobre a escassa utilidade dessas células custosamente conservadas. Hoje é mais fácil ter esta coragem do que em 2005 ou 2006. Nessa altura, apenas o professor Manuel Abecassis teve a coragem de esclarecer o público. Bem me recordo. Com as autoridades de então sem meios para corroborar. Tardou, mas valeu a pena, como vai ter de acontecer com a proliferação de anúncios, na Internet, de sequenciação do genoma humano para detecção de doenças ou vulnerabilidades genéticas, oferecidos como diagnóstico à la carte.
4. Nas más notícias, a pior já não surpreende: afinal, vamos ter de cortar em 2012 e 2013, por imperativo da sexta avaliação da troika, não quatro, mas seis e meio milhares de milhões de despesa pública. Onde? Quem garante que serão os derradeiros cortes, quando tudo leva a crer que o défice continuará a agravar-se por incapacidade de geração de receita fiscal em economia anémica? Não haverá processo de se cortar esta espiral depressiva? Não haverá, ao menos, a possibilidade de ela ser prevista e estimada de uma vez por todas? Será possível confiar num Governo que tropeça de falhanço em falhanço, até à nossa exaustão final?
5. Os juízes jubilados não sofrem os cortes marginais de 15% que incidem sobre funcionários com pensões entre 5031 e 7546 euros, nem serão afectados pelos cortes marginais de 40% que vão incidir sobre os que recebam mais de 7546 euros. Os juízes e funcionários judiciais, além do pessoal da PSP, PJ e guardas prisionais, podem reformar-se sem perdas, antes dos 65 anos. Porquê eles? Será que não irá o Orçamento violar o princípio da igualdade? Que acontecerá à nossa esquálida economia se o Tribunal Constitucional decretar essa "pequena" inconstitucionalidade?
6. Os compradores desconhecidos, a quem se diz querer o Dr. Relvas vender metade da RTP, estarão, ao que parece, associados a um país que, apesar de amigo próximo, não dá grandes sinais de respeito pela liberdade e pluralismo de opinião. Será que se persiste nessa ideia peregrina? Será que um privado que ficaria com quase metade da RTP pode receber a contribuição para o audiovisual, na verdade um imposto escondido e consignado? Será que o "espírito patriótico" que se ergueu nos media, quando Sócrates foi acusado de ter pretendido domesticar a TVI, só funciona da direita para a esquerda e assobia para o ar, quando o vento sopra da direita para a direita?
7. Fomos surpreendidos com um dispendioso anúncio de página inteira num diário, divulgando cursos até aqui ministrados pelo INA, destinados a chefias da administração pública. Da responsabilidade de uma badalada universidade privada. O Governo formulou um desejo de debate rápido, até ao Verão, sobre o Estado social. Para quê, se o vai sapando, metodicamente, na Educação, nos cortes da Segurança Social, em alguns da Saúde, na administração pública? Foi necessário desmantelar o INA para que ensino privado de qualidade inferior ocupasse o mercado de formação de dirigentes. Qual a credibilidade do Governo nesse debate?'
2 comentários :
A ultima noticia é tipica do chico espertismo destes liberais de merda : acaba-se com o serviço publico e entrega-se aos privados o mesmo serviço que os contribuintes CONTINUARÃO A PAGAR!
Filhos de uma grandessisssima p****
Sugeria que estudasse melhor a situação descrita em 5.
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