• António-Pedro Vasconcelos, Quem dá mais? [hoje no Público]
- 'Que o polémico ministro [o Dr. Relvas] tem mau perder, que goza da protecção incondicional do primeiro-ministro, e que, também por isso, se julga imune ao escrutínio da plebe já todos sabíamos. Mas que ele levasse a sua obstinação ao ponto de, nessa mesma noite, anunciar um novo plano para destruir o que resta da estação pública poucos esperavam. O que prometeu Relvas aos portugueses? Uma "reestruturação dolorosa" que, na prática, se reduz a um plano de mais de 600 despedimentos (quase um terço da empresa!), para o qual o primeiro-ministro lhe entregou de mão beijada 42 milhões de euros, que, em vez de servirem para melhorar a programação, vão servir para a destruir, para aumentar o desemprego e reduzir a RTP a uma empresa incapaz de recuperar a sua credibilidade e de desempenhar as suas obrigações. Borges, o seu ventríloquo, já o veio dizer com o desprezo cínico dos grandes predadores: a RTP, tal como a TAP, tem de se tornar primeiro "mais atractiva" (leia-se: mais barata) para quem no futuro a quiser comprar.
Pelos vistos, esta guerra que Relvas move à RTP não tem fim à vista. E, por paradoxal que pareça, é agora bem mais perigosa. Relvas promete dar luta. Com uma administração dócil, que já colocou os seus peões, cavaleiros e bispos no tabuleiro para se mexer à vontade, o ministro tem agora as mãos mais livres para levar por diante o seu plano de destruição da empresa. Sem ter de dar contas ao Parlamento nem ao Presidente da República, com esta derrota, Relvas sente-se, paradoxalmente, mais livre de constrangimentos.
Pretendendo sempre agir em nome do interesse público, Relvas não hesita em continuar a manipular os números: a RTP, diz ele, custou, no ano passado, 540 milhões aos contribuintes. É preciso dizer com clareza que estes números são falsos. E, das duas uma: ou Relvas sabe - e é grave, porque mente; ou não sabe e é igualmente grave, porque revela que o ministro é ignorante. Com os seus 15 canais, de rádio e TV (nacionais e internacionais, generalistas e temáticos), a RTP custou aos portugueses, em 2012, €145,75 milhões da contribuição audiovisual (CAV), mais €73,171 milhões da indemnização compensatória e 339 mil euros de subsídios à exploração. Nem mais um cêntimo. O resto (€45,315 milhões) foram receitas comerciais. Incluir nesses custos o pagamento voluntário de uma parte substancial da dívida (€344,5 milhões), que estava a ser paga através da publicidade a um sindicato bancário internacional, desde o tempo de Morais Sarmento, e que o actual ministro decidiu antecipar (perguntem-lhe porquê), é um exercício de demagogia que cai mal a um responsável político. Por duas razões: primeiro, porque o défice de mais de mil milhões de euros que a RTP tinha em 2005 era o efeito de uma dívida contraída pelo Estado que, durante anos, não pagou à empresa as "indemnizações compensatórias" a que se havia obrigado, primeiro pela perda da taxa, depois pela perda substancial de publicidade. Segundo, porque a RTP, como todas as TV públicas da UE, recebe fundos públicos (da taxa e/ou do Orçamento) para pagamento das obrigações e limitações a que está obrigada pela prestação do serviço público. Acresce que, se a publicidade tivesse constituído, como devia, uma receita da empresa e não um encargo para pagar a dívida, a RTP (a segunda mais barata da Europa) teria tido lucro desde 2005.
O que devíamos estar a discutir há muito, em vez deste folhetim lamentável congeminado por um ministro ignorante e mal-intencionado, era a reforma da RTP, o modo de a tornar melhor e mais independente. O que exigiria quatro medidas: 1) Como desgovernamentalizar a nomeação das administrações; 2) Qual a presença do serviço público nas novas plataformas, nomeadamente na TDT; 3) Qual o seu modelo de financiamento (CAV, OE, publicidade e outras receitas comerciais) e os respectivos montantes; 4) Quais as formas mais eficazes e transparentes de escrutinar o seu desempenho.
Mas isto são questões demasiado sérias que ultrapassam as intenções e as capacidades do ministro, e que, no seu afã de a entregar a um privado, não fazem parte dos seus planos. Já que ele demonstrou que era capaz de mudar de estratégia, mas não de objectivo, era talvez altura de mudar de ministro.'
ResponderEliminarMudar de Ministro? Sim, mas para isso é forçoso mudar de Governo. E para isso é indispensável mudar de Presidente da República. Só que, para isso, é mister que haja um LÍDER DA OPOSIÇÃO!
ESTES SACANAS DEMONSTRAM A SUA POUCA INTELIGÊNCIA E MUITA ESPERTEZA, PENSANDO QUE TODOS OS PORTUGUESES SÃO BURROS OU SÃO DA LAIA DOS SEUS ELEITORES!!!
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