sexta-feira, janeiro 13, 2006

Sugestão de leitura

André Macedo assina o editorial de hoje do Diário Económico, intitulado O poder da ANF, que se transcreve:

    "O artigo que o Diário Económico publica (...) é um retrato fiel do poder tentacular da Associação Nacional de Farmácias (ANF) e do seu presidente, João Cordeiro.

    Tentacular não é, seguramente, uma palavra simpática. Mas ela representa bem as dúvidas sobre o posicionamento de uma entidade que – tendo o dever de zelar pelos interesses dos farmacêuticos – opera no delicado universo da saúde pública (...).

    Nos últimos anos, João Cordeiro construiu um poderoso grupo de pressão assente nas dívidas do Estado às farmácias (...).

    Não estamos a falar de trocos. Ao todo, são milhões e milhões de euros. O suficiente para que a Associação Nacional de Farmácias, cobrando apenas 1,5% do dinheiro adiantado, tenha somado 158 milhões de euros em apenas oito anos. É verdade: 158 milhões de euros. Ou seja, um grande negócio que lhe permitiu crescer para outras áreas igualmente lucrativas. O resultado deste esforço está à vista. O património da ANF já inclui uma das maiores distribuidoras de medicamentos a nível europeu (a Alliance Unichem) e uma participação importante no capital do Hospital Amadora-Sintra.

    (...) Se João Cordeiro fosse administrador de uma empresa não haveria drama nenhum: aumentar o seu negócio faria parte das suas obrigações. Mas uma associação é uma associação, não é uma empresa. E uma associação não pode colocar-se numa posição de força tão evidente que consiga travar as decisões do Governo. Pior ainda: que consiga ir muito além da defesa de legítimos interesses comerciais e afecte a livre concorrência num sector tão sensível como a saúde.

    É isso que tem acontecido. Desde a liberalização da venda de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias – que a ANF foi acusada de boicotar –, à possibilidade de o Governo liberalizar a abertura de farmácias, nada se faz sem que João Cordeiro faça sentir o seu enorme poder. As escolhas do Estado não podem viver reféns de agendas particulares. O Governo deve ouvir os privados e tomar as decisões sem medo das consequências. Hoje, a ANF não deixa que isso aconteça."

2 comentários :

  1. Esta situação só é possível graças ao nível de corrupção a que chegaram os governos deste país.
    Prejudicar a saúde de muitos milhões de portugueses para sustentar mafias partidárias que vão vivendo, também, com os donativos da ANF. (Por baixo da mesa, claro)

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  2. Ó sr. Miguel Abrantes... o sr fala e fala deste tema e não diz nada... Esquece-se de referir uma dezena de coisas!
    Antes de continuar, saliento que não tenho (infelizmente) nenhuma farmácia, mas que lido diáriamente com esta área...
    1º As farmácias são mais de 2.500 entidades separadas - associadas em grande maioria da ANF por opção própria, e não obrigadas a pertencerem a esta. Se esta ssociação protege os interesses dos seus associados, é perfeitamente válida esta assunção, desde que sejam cumpridos os requesitos da lei. Também me parece lógico que esta associação tente capitalizar ao máximo os seus activos através de investimentos.
    2º As farmácias são do sector que melhor evoluiu em termos de cuidados a prestar aos seus utentes, remodelando os seus espaços de forma a melhor servir o mesmo (claro que há excepções - mas são isso - excepções)
    3º As farmácias pagam impostos ! Conheço casos de 40% de IRS ! - Vá-me dizer quanto o belmiro de azevedo - as suas empresas - pagam de impostos (tirando o que pagou ao governo para sustentar a campanha com esperança da liberalização dos medicamentos para abrir um botequim em cada hiper ) ???
    4º Se o estado fosse cumpridor com os seus compromissos, não haveria de haver um intermediário (ANF) que pagasse a tempo aos seus associados as verbas em divida pelo estado ás farmácias. Imagine o belmiro de azevedo a vender a credito aos utentes, a emprestar medicamentos aos utentes por não terem medicos para passarem as receitas, e ficar não sei quantos meses á espera que o estado pague as comparticipações ( ao que sei por causa da famosa alteração em OE, até ficou com as contas certinhas para poder fazer exactamente o que pretendia - tentar tirar poder negocial á ANF - e partir para os interesses de outros lobbys).
    5º As farmácias têm contribuindo para a melhoria da quanlidade de saúde através de diversas campanhas gratuitas nomeadamente em determinações analiticas. Também comtribui sem lucro nenhum para o Protocolo Diabetes, em que é o estado que cede directamente os medicamentos através das farmácias.
    6º está provado em diversos países que a liberalização do medicamento só está a trazer problemas, nomeadmente a disponibilidade de substancias altamente perigosas para a saude publica quando não devidamente acompanhados por medico/farmaceutico de forma generalizada e não controlada - basta olhar para o viagra e afins.

    Muito mais haveria para dizer, relativamente á liberalização, mas isso fica para outra altura com mais paciencia
    Por isso é que estes blogs são o que são, mas pior ainda é quem intervem neles e opinam com base naquilo que diz o vizin ho do lado e por detras de outros interesse s ocultos, e tentam lançar achas na fogueira, contra um sector que até funciona bem (por enquanto)!

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