sábado, junho 03, 2006

Se ler no Expresso, acredita?


José António Saraiva desvendou um dia como fazia as manchetes: trancava-se, à sexta-feira, no gabinete e construía a história. Tinham quase tanta graça como as cenas de sexo nos seus livros de ficção. Agora o Expresso perdeu a veia ficcional. Estagiários desprevenidos apanham uma dica no ar e sai manchete. A de hoje é soberba: “4 milhões isentos de IRS”.

Isto haveria, é claro, de ter uma explicação: “Na origem desta tendência está a crise económica que, além de criar mais desemprego obriga os empregadores a mais comedimento nos aumentos salariais, muitas vezes inferiores às actualizações dos escalões de IRS.” Então como se justifica que, segundo o Expresso, as receitas de IRS aumentem? É simples: “O total das receitas faz-se, assim, à custa de apenas metade do universo dos contribuintes — os restantes 4 milhões.

É sintomático do estado do Expresso que esta barafunda seja alçada a manchete. Ora o IRS não tributa contribuintes, ao contrário do que a notícia sugere: tributa agregados familiares, cujo número se traduz em declarações entregues (por casados, solteiros, divorciados, viúvos…). O gráfico que consta do caderno Economia confirma isso mesmo. Basta saber lê-lo.

Por outro lado, o Expresso mistura outras duas realidades distintas. Diz-se o seguinte: “O número de contribuintes que paga IRS está em queda. No ano passado, apenas metade das declarações entregues ao fisco acrescentaram dinheiro aos cofres do Estado, o que significa que quatro milhões de contribuintes ficaram isentos de pagamento.” Seria bom de mais para ser verdade.

Quem são os isentos a que se refere a notícia? Os agregados que se encontrem na situação prevista no art. 70.º do Código do IRS, de modo a lhes ser assegurado um “mínimo de existência”.

Acontece que aos contribuintes dos restantes agregados é feita retenção na fonte. Naturalmente, haverá muitos agregados que, quando se dá o momento do acerto de contas (com a entrega da declaração de IRS), não tenham nenhuma importância a pagar ou a receber. Mas, uma vez que já pagaram o imposto através da retenção na fonte, não serão propriamente contribuintes isentos…

Se ler no Expresso, acredite, pois então.

7 comentários :

  1. A nova Madre Teresa de Calcutá ainda não partiu para Timor (quando podia ter aproveitado a boleia da GNR) para aí iniciar uma bem sucedida carreira (obviamente não remunerada) como “jornalista jubilado” de uma agência de comunicação que teve como cliente o Governo do “animal feroz” ?

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  2. Realmente, só acredita nos disparates do "Espesso" quem quer. O interesse do conteúdo é inversamente proporcional ao respectivo peso.
    E esperem para ver o nível quando aparecer o pasquim do Saraiva... vai ser pior que a concorrência entre televisões...

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  3. Miguel Abrantes, o Especialista (em Juízes, Direito, Fiscalidade, Cordeiros, Função Pública, Polícias, Tribunais, Centrais Elécticas, Cogeração, Escarros e Urínois) a nova Madre Teresa?

    Só se for para conseguir casar e poder rir-se do famoso casal de lésbicas...

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  4. Não tinha reparado no disparate da manchete do Expresso.

    Se não tem direito a revolução de IRS não significa que não lhe tenha pago mensalmente na retenção.

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  5. Boa Miguel.

    É um jornal para mentecaptos, já há muito que lhes dei sopa.

    Com o "meu" carcanhol, o Chico ía viver para a quinta das ratas.

    Um "patrão", que tem destes jornas, não merece outra coisa.

    Ja agora sabes de onde é o Juíz do Apito Azulado? é de Vinhais.

    Sabes de onde é o Antero, segundo homem do FCP? é de Vinhais.

    Para o Juíz não querer o processo e muitos, o obrigaram a ficar com ele, é obra.

    Topas

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  6. Na verdade a bota não bate com a perdigota.

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  7. Interesting website with a lot of resources and detailed explanations.
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