sexta-feira, setembro 22, 2006

Revisão da matéria dada*


Sugestão de leitura –Eis, pois, o crime a apurar: quem fabricou o punhal com o qual matei meu pai?

Nuno Brederode Santos escreve no DN sobre a estranha investigação do “Envelope 9”. O artigo intitula-se "Desentendimentos":

    "A aparatosa invasão das instalações de um jornal veio revelar que subsiste, entre a PGR e o país, um mal-entendido que era razoável julgar sanado. Ou seja, os muitos críticos e os porventura alguns apoiantes da PGR nesta matéria gostariam de saber como é que foi possível existirem num processo, que já não estava em segredo de justiça, listagens de tráfego telefónico dos titulares de altos cargos públicos (todos eles abrangidos pela "conta Estado" da PT), assim escancaradas à curiosidade de qualquer um. Por seu lado, o PGR, desde as portas de Belém e da comissão parlamentar até agora, tem perfilhado o entendimento de que o que importa apurar é como é que um ou mais jornalistas tiveram acesso às referidas listas.

    Eis, pois, o crime a apurar: quem fabricou o punhal com o qual matei meu pai?

    Talvez por falta de imaginação, tenho muito pouca curiosidade no que toca ao mistério que parece apaixonar a PGR. Se as listas foram copiadas no "local do crime" ou alhures; se o pérfido ia mascarado e roto ou de barba feita e gravata de seda; se a "fuga" se fez em transporte particular ou colectivo - serão excelentes exercícios de investigação detectivesca, mas nada dizem à matéria da nossa legítima curiosidade. Que é esta: houve ou não negligência ou incompetência em manter nos autos desonerados e abertos elementos de informação confidencial? E não essa outra: quem foi o patriótico delinquente que pôs a nu essas hipotéticas negligência e incompetência?

    Claro que a interpretação que a PGR faz de qual é a matéria em investigação tem inegáveis vantagens. A começar pelo facto de que seja qual for a resposta que se vai apurar, nada a salpicará com quaisquer culpas funcionais. E a culminar na circunstância de o normal decurso do inquérito judicial agora ordenado apontar para além do termo de alguns mandatos em curso. Porque, ao contrário do que normalmente se pensa, há circunstâncias em que cortar a cabeça ao mensageiro resolve mesmo o problema da mensagem.

    O Millôr Fernandes já nos tinha avisado que isso dos desentendimentos é uma pecha comum entre entendidos."


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* Post publicado no dia 20 de Fevereiro de 2006.

2 comentários :

  1. Ia jurar que já tinha lido isto duas vezes numa esterqueira qualquer - continua, que a foto favorece-nos...

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  2. A aparatosa invasão das instalações de um jornal,tambem foi antecedida de fuga ao segredo de justiça, se não foi, como se justifica a presença dos carros de exteriores das 3 estações de televisão (já lá estavam antes da chegada dos invasores) para transmitirem o acontecimento em directo!
    Pelos vistos anda toda a gente a CAGAR PARA O SEGREDO DE JUSTIÇA!

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