Cluny, o versátil

O magnífico presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público (SMMP) não perdeu tempo. Depois de um combate feroz para colocar no cargo de vice-procurador-geral da República uma sindicalista da sua confiança, veio dizer, a propósito da eleição de Gomes Dias, ao DN [link não disponível]:

“Ainda bem que a equipa está completa. Espero que, em conjunto, possam fazer um Ministério Público eficaz.”

A desfaçatez desta afirmação tem um contrapeso. Cluny e os seus sequazes convenceram o jornalista do DN de que o procurador-geral da República ameaçou demitir-se em caso de novo veto. Ora o procurador-geral, que não parece mentiroso, afiançou que não ameaçara demitir-se em caso nenhum.

Mais uma vez, a rapaziada do SMMP mostrou a sua arte, misturando o on e o off. Em on, piscou descaradamente o olho ao procurador-geral, para ver se ainda cai para o seu lado o cargo de procurador-geral distrital de Lisboa, cujo titular irá agora aposentar-se. Em off, justificou a atitude de troca-tintas de um ou outro companheiro de luta que mudou o seu sentido de voto, insinuando que a mudança se deveu à ameaça de demissão.

Como toda a gente sabe, mais depressa se apanha um mentiroso do que um coxo. Na eventualidade de o nome de Gomes Dias ser mais uma vez vetado, o procurador-geral já tinha preparado um despacho para manter em funções o sibilino Agostinho Homem, tal como a imprensa noticiou.

A táctica de Cluny, de tão repetida, já é conhecida de mais. O eterno presidente do SMMP é como aqueles pontas-de-lança que marcam o penalty sempre da mesma maneira. A partir de certa altura, os guarda-redes já os topam. O prazo de validade de Cluny está a esgotar-se.