domingo, março 18, 2007

Sobe, sobe, balão sobe




Começa a compreender-se por que está o Público a deixar de ser um jornal de referência. Para ilustrar uma notícia correcta sobre mulheres juízes, que na 1.ª instância já estão em maioria, como estiveram antes nas faculdades e estarão em breve nos tribunais superiores, o Público (na coluna Sobe e desce na última página) resolveu estampar a fotografia de Cândida Almeida, que surge com a setinha para cima.

Porém, os lapsos são muitos. O primeiro é que Cândida Almeida não é nem nunca foi juíza. Talvez venha a sê-lo, como já sucedeu a muitos outros procuradores-gerais adjuntos. A directora do badalado DCIAP consta de uma lista de graduações no Supremo Tribunal de Justiça, que foi objecto de um “carinho” mediático sem precedentes.

O segundo lapso é atribuir a um facto com mais de dez anos — a ascensão a procuradora-geral adjunta — a origem da seta ascendente actual. É caso para dizer que é uma seta lenta como o caracol.

Mas, pior do que isso, convém dizer, sobretudo aos leigos, que Cândida Almeida foi promovida a procuradora-geral adjunta por força de uma lista de antiguidade, em que o mérito teve um papel reduzido. Se hoje há mais candidatos do que vagas à categoria de procurador-geral adjunto, quando Cândida Almeida foi promovida, passava-se o contrário.

Por tudo isto, a afirmação de que Cândida Almeida não precisou de quotas para se alçar à actual categoria só pode ser entendida como piada de mau gosto do Público. Cabe perguntar:

    • O que justifica, em termos de mérito, a escolha de Cândida Almeida para simbolizar as juízas ou as juristas portuguesas?
    • Tendo a jornalista que a escolheu para acompanhar Paulo Bento (se eu estivesse no lugar dele protestava) nas setinhas ascendentes invocado a sua competência, será que estava a pensar na qualidade da obra de Cândida Almeida no Conselho Consultivo da PGR?

Sugiro-lhe que perca um bocadinho de tempo e leia as pérolas que ela por lá escreveu.

De qualquer maneira, há que ler com redobrada atenção o Público dos próximos dias, para ver se surge do nada alguma notícia sobre a investigação criminal, de preferência em fase de inquérito, que justifique retroactivamente a distinção ora concedida.

8 comentários :

  1. Provavelmente se o Eduardo Dâmaso, por exemplo, ainda estivesse no Público, a notícia sairia com menos incorrecções e ter-se-ia escrito menos barbaridades.

    De facto, o Público fenece a olhos vistos.

    Quanto ao restante, “Assim, se vê, a força do pê-cê-pê”!, do Snob e demais tascas e botequins do Bairro Alto.

    Por fim, não é de minimizar que as grandes mulheres, por coincidência ou não, também são sempre casadas com grandes homens, por sinal, bastante influentes nos corredores mais recônditos do poder, seja ele rosa, laranja ou lilás. Assim, como se fossem uma espécie de sábios...

    Muitos, são os exemplos, ao nível da PGR e alguns até bem recentes.

    E o lamentável nisto tudo é que o poder executivo, se não fomenta este tipo de conexões, admite-as, servindo-se delas.

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  2. No após a 25 de Abril, vários individuais de diversos quadrantes iniciaram um percurso, em vários domínios da nossa vida colectiva, que os guindou a lugares nunca antes sonhados e que se eternizaram no poder dessas organizações fazendo inveja a muitos DITADORES.
    Nos sindicatos temos uma serie desses oportunistas e malandros, falam em nome dos trabalhadores, não exercendo qualquer actividade que honre este nome (trabalhador), á décadas:
    O QUADRO PRINCIPAL DOS FIGURÕES:

    - CARVALHO DA SILVA- CGTP
    - CLUNY – MAGISTRADOS
    - PICANÇO – UGT
    - TRINDADE – CGTP
    - ONOFRE – UGT
    - JARDIM – PSD
    - NOGUEIRA – CGTP
    - SUCENA – CGTP
    - PROENÇA – UGT
    - CARTAXO – CGTP
    - PILÓ – CGTP
    - LANÇA – CGTP
    - ADÃO – CGTP
    - ALBANO – CGTP
    - NOBRE - UGT

    - ETÇ, ETÇ, ETÇ.
    Citando apenas alguns DOS VÁRIOS FIGURÕES, porque há muitos mais…

    Para quando uma lei que ponha cobro a esta vergonha? Sabemos como se processam as eleições para estes cargos, influencias políticas e de oligarquias formadas que determinam á partida o vencedor , as quais são posteriormente compensadas das formas que já também conhecemos.
    Porque não abranger estas organizações pela mesma Lei que determina o numero de mandatos para cargos políticos?
    Tenho uma opinião negativamente formada sobre estes DEMAGOGOS e OPORTUNISTAS, que utilizando o púlpito dessas funções, permite-lhes chegar a cargos de alguma projecção e de remunerações muito elevadas, ao contrario daqueles que dizem servir.
    Estes ditadores que utilizam os mecanismo ( com esquemas) da democracia para se perpetuam por décadas no poder, são a meu ver a DESGRAÇA nacional , no Portugal democrático.
    ribeiro

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  3. A noticia publicada no "publico" é não mais do que um servilismo jornalístico beato que cheira mal. Srs. jornalistas para quando deixam de ser comparsas, nas noticias que escrevem? Vocês não vêem que cada vez se lê menos jornais? já indagaram dos motivos que levam a s pessoas a fugir de vos?.

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  4. Caro Miguel:

    Estive a ler o pasquim onde a sua amiga Cândida era elogiada, percebo a sua fúria (falar bem de Juízes, ou lá o que é a senhora...!?!) mas notei que, na página onde estava o texto aqui apreciado havia muitas mais prosas interessantes que lhe mereceriam uma reflexão - a saber:

    1. Referência ao texto sobre "Viagem aos cérebros dele e dela, para ver as diferenças, P2": 1.1. É inconcebível que continuem a falar da máfia político-maçonica (coisa que em Portugal nunca existiu...) pondo esse horrendo nome a um suplemento;
    1.2. Esqueceram-se do terceiro sexo - o Miguel p'ráqui a pregar as virtualidades do casamento homo e eles nada...

    2. A Opinião de VPV, sobre qualificações dos PM's, é um insulto ao engenheiro Sócrates (ou lá o que ele é, que site do Governo tem andadoo errático quanto ao assunto). Que se fale mal do Guterres, ainda vá. Que diga cobras e lagartos do Durão, concerteza... Que chame nomes ao PSL, muito bem! Agora quanto ao engenheiro, não havia necessidade... e toda a gente sabe as qualificações do Engenheiro.

    3. No "sobe e desce", o Mário Lino é atacado por não se lembrar de um estudo que,praticamente, não existe... Andam a tentar confundir as pessoas sobre a Ota - o Miguel tem de falar neste assunto.

    4. A ausência de textos da filha do "estou-me a c... para Justiça" certamente justificam as palavras amáveis para Cândida Almeida - nunca mais compro este pasquim...

    5. Subentendi uma referência ao Miguel (e ao Afonso...!) num anuncio a uma banda desenhada que o P vai republicar - "A pedido do público o Spirou". Falta o Fantásio - querem ver que o Afonso ou o Carlos Solrac voltam a este Blogue...?!!!!

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  5. SOCRATES SEJA O QUE FOR, PARA O CASO POUCO INTERESSA, É UM DOS MAIORES DE ENTRE TODOS OS POLITICOS QUE JÁ GOVERNARAM ESTE PAÍS.SÓ ISTO POR SI VALE TUDO.A RAZÃO DE ALGUMAS INVEJAS VEM DE PESSOAS QUE SE ACHAM INTELIGENTES, MAS QUE NÃO PASSAM DE MEROS MELROS DE GAIOLA.

    Nunca um invejoso perdoa ao mérito.

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  6. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  7. Para classificar a D.Candida bastam duas palavras: incompetência e submissão.
    Quanto à jornalista: ignorante e prostituta.
    Era a guilhotina.....!!!!

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  8. Autor: Constança Cunha e Sá
    Data: Quinta-feira, 15 de Março de 2007
    Pág.: 45
    Temática: Espaço Público



    O estilo do primeiro-ministro confirma apenas a sua falta de substância

    O estilo e a substância

    José Sócrates, esse estadista de última hora, foi sempre um homem do aparelho, um cacique local que cresceu nos jogos partidários e se distinguiu nos golpes de bastidores



    Em Portugal, há uma suave combinação entre o poder e a arrogância que leva invariavelmente ao mito e à hagiografia. Em 1990, quando o cavaquismo decidiu vender uma imagem diferente do chefe, o Expresso deu à luz um trabalho de fundo, sob um título auspicioso: A história do menino Aníbal. Como mandam as regras da propaganda, A história do menino Aníbal oferecia-nos "o retrato de um vencedor" e o percurso de um "predestinado" que "o acaso" empurrara para a política, a bem da modernização do país e da felicidade dos portugueses. A biografia, recheada de pequenos e coloridos episódios, revelava um "novo" Cavaco Silva, surpreendentemente humano (havia dúvidas sobre a matéria!) nos seus pequenos prazeres e nas suas inocentes "tropelias". Para deleite de todos os fiéis, ficou-se a saber que, por trás do rosto esquálido e austero do primeiro-ministro, havia um "Aníbal" traquinas que gostava de pingue-pongue e de matraquilhos e que subira a pulso na vida. Ungido pelo mérito, o rapaz pobre de Boliqueime, que fazia parte dos "costeletas" (por oposição ao grupo privilegiado dos "bifes"), acabara por se transformar num mago da economia, com doutoramento a preceito e provas dadas no desprezível mundo da política. Na altura, quando o regime celebrava a existência de um "novo português" que se distinguia pela "vontade de vencer", o exemplo de Cavaco Silva, educado no esforço e na disciplina, era a confirmação de um sonho que animou esses excepcionais anos de falsa prosperidade.
    Apesar da sua aridez e da limitação dos seus horizontes, a história do "menino Aníbal" tinha, apesar de tudo, um sentido que ultrapassava a mera glorificação do chefe e do seu grandioso "destino". Entre os sacrifícios da infância e o posterior brilho da academia, a biografia não deixava de encerrar o essencial do cavaquismo. Ou, dito de outra forma, o essencial de uma velha e recorrente tradição nacional que privilegia o esforço e o mérito em detrimento dos "interesses" mesquinhos dos partidos, que defende o primado da competência sobre as subtilezas da ideologia e que, em última análise, se baseia na superioridade da economia face às "intrigas" em que se entretém a política. Neste sentido, o retrato de Cavaco Silva é também o retrato de um país que procurou sempre fugir às suas responsabilidades através dos bons ofícios de um qualquer salvador que o resgatasse do seu proverbial atraso e da sua irremediável pobreza.
    O que impressiona na biografia do eng. Sócrates, publicada, este fim-de-semana, pelo semanário Sol, é o imenso vazio em que se afundam as inúmeras qualidades atribuídas ao biografado. Em vinte páginas de prosa, ao longo das quais vamos assistindo ao harmonioso desenvolvimento do pequeno Zezito, não há um pormenor que o diferencie, um traço que o caracterize ou uma ideia que o distinga - e muito menos algo que o determine à nascença para o exercício do poder, como assegura o título escolhido pelo semanário para coroar esta hagiografia da mediocridade.
    Na história do "menino Zezito", não há esforço, nem sacrifício. Também não há proezas académicas. Nem feitos profissionais. O bacharelato no ISEC - que tantas dúvidas tem levantado - é completado, vinte anos depois, quando já se encontrava no Governo do eng. Guterres, com uma obscura licenciatura, na Universidade independente. Pelo caminho, e dando provas da sua vocação para a política, mergulha, com o amigo Jorge Patrão, "nos meandros socialistas da região". Ou seja, envolve-se nas pequenas guerras do aparelho, onde gasta o melhor dos seus dias e inicia a sua fulgurante carreira. Em 1987, depois de se ter enfiado no sótão do eng. Guterres e numas intrigas de maior alcance, chega finalmente ao Parlamento, onde viceja discretamente durante os anos do cavaquismo. Ao contrário do que a sua "coragem" e "determinação" poderiam indiciar, José Sócrates, esse estadista de última hora, foi sempre um homem do aparelho, um cacique local que cresceu nos jogos partidários e se distinguiu nos golpes de bastidores.
    Antes de assentar na política, não deixou de fazer umas breves incursões profissionais. Em 80, deu aulas de Matemática no Liceu da Rainha D. Leonor. E, um ano mais tarde, arranjou um "posto" na Câmara Municipal da Covilhã, onde se distinguiu pelo "estilo", fugindo, como diz o jornal, ao "estereótipo do senhor engenheiro" que ele, para todos os efeitos, não era. Mas usava "calças encarnadas" - o que já então revelava uma aversão às regras da burocracia que se veio a corporizar, mais tarde, na apresentação do programa Simplex.
    É com este extraordinário curriculum que chega, em 95, ao Governo, pela mão do eng. Guterres, de quem foi sempre um solícito boy. Mantém-se firme, ao seu lado, até ao fim, quando o seu tutor político abandona as funções de primeiro-ministro depois de ter deixado, segundo as suas próprias palavras, o país "à beira do pântano". Uns anos mais tarde, surge a consagração mediática, com um frente-a-frente, na RTP, com Pedro Santana Lopes, uma das grandes estrelas desse restrito firmamento.
    Diz este último que o conhece como ninguém. E acrescenta: "Há duas pessoas na política que perceberam o meu método e, nalguns aspectos, seguem os meus passos: o Carrilho e o Sócrates." Por uma vez, uma pessoa sente-se tentada a dar-lhe razão. O estilo do primeiro-ministro confirma apenas a sua falta de substância.

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