segunda-feira, março 17, 2008

Leituras

António Correia de Campos, Moderar os ímpetos:

    “A peregrina teoria de que não se podem fazer reformas contra alguns dos seus destinatários. Claro que não se podem, pelo menos não se devem tentar reformas contra o que o legítimo poder, eleito pelo Povo, considera o interesse público, o interesse do País, mesmo quando demora algum tempo até que se conjugue a percepção da união entre estes dois interesses. Um ilustre articulista regular de um dos nossos diários acha que não se fazem reformas contra as corporações. Se fosse verdade, não teria o Marquês reformado a Universidade de Coimbra, não teria Joaquim António de Aguiar abatido os foros e morgadios, não teria Fontes Pereira de Melo construído estradas e linhas de comboio contra proprietários fundiários e agrários retrógrados que receavam a drenagem das produções agrícolas para benefício de outras regiões, não teria Duarte Pacheco construído a marginal, não teria o PS feito aprovar a lei da delimitação dos sectores, não teria sido privatizada a comunicação social que caiu no regaço do Estado com as nacionalizações, não teria Vieira da Silva realizado a reforma da Segurança Social, não teria Maria de Lurdes Rodrigues aberto a escola pública todo o dia, concentrado o ensino do primeiro ciclo em locais onde as crianças socializem mais cedo, criado aulas de substituição, instalado o ensino do inglês desde cedo, ou colocado os professores por três anos. Refiro os últimos exemplos para que não se argumente que, reformas a sério, só com regimes autoritários. Não há registo de que as corporações tenham apoiado qualquer destas reformas desde o início. Quando muito deixaram de lhes ser hostis quando ponderaram melhor o que perdiam em credibilidade. Se convenho em aceitar que as reformas se não devem fazer contra ninguém, prefiro admitir, como se tem demonstrado, que é possível fazer reformas apesar das corporações.”

    «Os professores, em Portugal, após 15 anos de experiência (número-padrão utilizado pela OCDE), ganham 1,62 do PIB "per capita". A média dos 19 países da Europa contabilizados na OCDE é de 1,41; a média de toda a OCDE (já com os EUA, a Rússia, o Japão, a Austrália, etc.) é de 1,36. Não estamos mal.

    Melhor só na Alemanha, Holanda, Suíça e Turquia.

    Estes são os números, os resultados são péssimos e a OCDE tem mais um terrível - Portugal é o país onde mais se depende do estrato social para chegar ao fim do secundário.»

Miguel Sousa Tavares, Disseram liberdade?:

    “Noutra frente, também as invocadas malfeitorias antidemocráticas do Governo encontraram terreno para várias outras indignações. De repente, diversos jornais e jornalistas deixaram de lado o trabalho de analisar a razão ou a falta dela de professores e ministra da Educação, para passarem a achar suficiente a acusação dos professores de que estão a atentar contra a sua "dignidade". O jornal 'Público', desesperadamente em busca de uma caução de esquerda (perdida quando o seu director, entre outras coisas, se lembrou de ver na invasão do Iraque uma espécie de 25 de Abril no Médio Oriente), passou a semana que antecedeu a manifestação dos professores a fazer a promoção dela. Quando a Fenprof anunciou de véspera 70.000 manifestantes, o 'Público' confirmou: iam ser 70.000; quando a Fenprof, no dia após, corrigiu para 100.000, o 'Público' adoptou logo os 100.000 como número oficial e definitivo. E quando alguns polícias e GNR foram a quatro das 1200 escolas do país perguntar quantos manifestantes viriam a Lisboa, o 'Público' tratou imediatamente de fazer manchete com a acusação da Fenprof de que se tratava de uma manobra intimidatória, seguramente planeada ao mais alto nível: nem por um momento se ponderou a possibilidade de ser verdadeira, e mais razoável, a explicação dos polícias envolvidos de que tinham apenas querido planear e facilitar o trânsito para e em Lisboa.

    Mais sugestivo ainda foi o episódio acontecido em Chaves com o ministro Augusto Santos Silva (colunista do 'Público' até à sua ida para o Governo). Chegando à sede local do PS para uma reunião privada do partido, o ministro foi recebido por uma manifestação "espontânea" de gente a gritar-lhe, entre outros mimos, o de "fascista". O homem indignou-se, como eu me teria indignado. E desabafou que não apenas o PCP não detinha o exclusivo histórico da luta antifascista, como também, e como toda a gente sabe, lutou contra o fascismo, mas não pela liberdade e pela democracia e sim pela "instauração da sociedade socialista", derrotada na Fonte Luminosa, em 1975 - uma verdade inquestionável e, até hoje, um divisor das águas passadas que se mantém actual. Pois, no dia seguinte, o 'Público' virava as coisas ao contrário e, sem pudor algum, considerava que aquilo que merecia repúdio não era a manifestação contra o exercício do direito de reunião partidária, mas sim a "reacção desabrida" (título do jornal!) do ministro. O que diria o PCP, o que diria Menezes, o que diria o 'Público' se amanhã o Governo ou o PS organizassem manifestações à porta das sedes do PCP ou do PSD a chamarem-lhes fascistas? Como se vê, também a liberdade de opinião não parece estar em perigo - pelo menos a da oposição.”

8 comentários :

  1. O termo de comparação agora é o PIB.
    A hipocrisia e a demagogia dos lacaios deste blogue não conhecem limites.
    E quanto custam ao país os deputados e os políticos em geral, em termos de PIB, incluindo as benesses que só eles têm?
    Isto tendo em conta também a competência que já revelaram, todos eles, desde o 25 de Abril.

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  2. O Público não é coisa onde se gaste dinheiro.

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  3. Como é habitual o MST oferece-nos uma opinião esclarecedora e fundamentada.

    Compartilho plenamente dos seus pntos de vista.

    Se há LIBERDADES E DEMOCRACIA em PORTUGAL se deve ao PS, combatendo o pcp e seus lacaios no seu proprio terreno.

    Fascismo e comunismo nunca mais.

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  4. Assim a olhómetro:
    Se na meia maratona do fim de semana 30000 participantes (dito pela organização) encheram completamente a Ponte,
    como é que a Praça do Comércio parcialmente cheia pode ter 100000?

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  5. Miguel
    Pode arranjar-me o artigo completo do MST ?
    Obrigado

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  6. O anónimo ofendido com a comparação do custo horrendo dos professores x o que de facto ensinam, podia era deixar de justificar as inconpetências de uns com as malfeitorias de outros entricheirados na AR. Isto de sempre se alinhar pelos piores e pelos que menos fazem, por um lado mostra que as políticas que critica estão corretas e, por outro revela o seu verdadeiro carácter corporativo e reaccionário.

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  7. Olha! O MST também já é "MST", ou seja, pseudónimo utilizado por um assessor do governo? Muito me contam.

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  8. Oh MST,

    Eu também me indigno com muita coisa...

    Não sei se me está a seguir...

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