sexta-feira, março 14, 2008

O fim da liberalização do sector farmacêutico?

Algumas pessoas já se esqueceram, mas foi só na presente legislatura que o tradicional monopólio das farmácias na venda de medicamentos e o condicionamento no acesso à actividade começaram a ser combatidos.

Assim, temos agora em todo o país umas seis centenas de para-farmácias onde é possível adquirir medicamentos não sujeitos a receita médica. O mercado que elas disputam às farmácias vale quase 500 milhões de euros por ano. Parece muito, mas não ultrapassa os 20% das suas vendas totais.

Sucede porém que não só esse é o segmento que mais cresce, como proporciona margens consideravalmente mais elevadas do que os outros medicamentos. É possível que, em breve, os medicamentos não sujeitos a receita médica proporcionem às farmácias metade dos seus lucros totais.

Ainda mal o público começou a experimentar as vantagens da concorrência, e já a Associação Nacional de Farmácias inventou um expediente para de novo a aniquilar. Trata-se do cartão de fidelização que se prepara para anunciar na próxima semana e ao qual terão aderido 2.000 dos 2.700 associados da ANF.

Do que se trata no essencial é de fazer concorrência desleal às para-farmácias, aproveitando as economias de escala asseguradas pela ANF para fazer descontos apenas e só nos produtos que também são vendidos pela concorrência.

Isto é possível porque a ANF não é hoje uma verdadeira associação empresarial. Primeiro começou por se transformar num cartel acarinhado pelos poderes públicos, depois transformou-se num grupo económico que comanda um vasto universo empresarial que inclui a Farmindústria, a Farminvest, a Finanfarma, a Farmatrading e a Valormed, a que acrescem participações diversas em empresas de consultoria, informática, formação, hospitais e clínicas.

As farmácias que se recusem a integrar a ANF arriscam-se a pagar um preço elevado por isso, designadamente pela dependência criada em relação aos sistemas de distribuição e logística por ela controlados.

O novo cartão de fidelização - curiosamente apoiado pelo banco público, a Caixa Geral de Depósitos - representa, pois, um sério ataque à liberalização do sector farmacêutico. Vamos a ver como se comportam as autoridades reguladoras.

6 comentários :

  1. a anf e' um grupo economico como outro qualquer. poder utilizar o termo associacao julgo que nao e' legal.

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  2. É na realidade um cartel relativamente ao qual a Autoridade da Concorrência deveria actuar.

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  3. Modelo Continente, Auchan e Feira Nova já têm cartões idênticos para os seus clientes, incluindo os medicamentos. Porque é que os reguladores ainda não actuaram?

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  4. Custa-me a compreender tanta preocupação com a defesa da liberalização do sector farmacêutico. Então este Governo é socialista ou liberal?
    Não sou farmacêutico, nem tenho familiares próximos farmacêuticos, nem qualquer interesse pessoal na questão. Mas, como socialista, não percebo porque é que um indivíduo que não é farmacêutico há-de querer ter uma farmácia.
    E também me surge a seguinte dúvida: se qualquer pessoa pode ter uma farmácia, para que servem os cursos de Farmácia? Para formar empregados dos capitalistas donos de farmácias?
    A "liberalização do sector farmacêutico" não é mais do que o triunfo do capitalismo nesse sector. Qualquer dia as farmácias serão todas do Eng. Belmiro de Azevedo e quejandos mercenários e os farmacêuticos não passarão de empregados deles.
    É a proletarização dos farmacêuticos.
    De um ponto de vista socialista isso só se compreenderia se o Governo tivesse feito este raciocínio maquiavélico: vamos proletarizar oa farmacêuticos, os advogados, os médicos, etc., para que eles se revoltem e façam uma revolução socialista mais depressa!
    Mas não me parece que tenha sido essa a ideia. Trata-se apenas de uma (mais uma...) cedência aos interesses do grande capital.

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  5. Miguel

    E O AUMENTO DO SUSÍDIO DE RENDA

    Estou varado da tola

    Brincamos ou quê ????

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  6. Sei muito bem que não é o tema do "post", mas preciso de deixar aqui a revolta que me vai na alma.

    Acabei de sair de uma pós-graduação. Pelo caminho, de regresso a casa, vim pensando no Sócrates e na Ministra da Educação. Duas pessoas tão criticadas e tão mal amadas. Mas, quando sentimos na pele a incompetência, damos a mão à palmatória e reconhecemos que, sem dúvida, o insucesso e os professores andam de mãos dadas. Para dar aulas, não bastam as habilitações exigidas e necessárias, é preciso muito mais do que isso. Três horas numa sala onde não se consegue perceber metade do que a professora diz, é obra, isto é, é incapacidade para leccionar. Realmente em Portugal, basta o canudo para se ser professor, quando se devia, para se poder ensinar, ter não só os conhecimentos, mas também a capacidade para os saber transmitir.
    Em tempos que já lá vão, tempos pré-históricos, na velha tropa, aprendi métodos de instrução, isto é, a forma e o método como se deve ensinar os recrutas. Do pouco que ainda me lembro, recordo-me vagamente que era obrigatório reservar cinco a dez minutos do final da aula para avaliar o grau de conhecimentos que os recrutas tinham retido. Se os conhecimentos fossem fracos, estava determinado que a culpa era do instrutor que não tinha sabido transmitir os conhecimentos ou não tinha cativado a atenção dos destinatários. Antes do início de cada recruta, mesmo para os instrutores mais velhos e os do quadro permanente, havia a chamada, se a memória não me falha, escola de quadros. Eram duas semanas, onde os instrutores recebiam instrução sobre a forma como a instrução devia ser dada, os objectivos pretendidos, e ficámos a par das directivas que tinham vindo do estado-maior. Havia fichas de instrução para todas as matérias, algumas até estavam plastificadas, nomeadamente as de armamento e da ginástica de aplicação militar. Ensinavam como se devia escrever nos acetatos, letras nem muito grandes, nem muito pequenas. Cuidado com as anedotas, por vezes é agradável quando a instrução está a ser pesada, mas não se pode exagerar senão perde-se o controlo do pelotão, etc. etc. E eu, na altura, pensava que os militares estavam mais atrasados que os civis. Hoje, com todos os computadores, aparelhos de som nas salas de aulas e NADA. Há dias, um professor, trouxe em Power Point, o que nós chamávamos auxiliares de instrução. Era uma folha A4 toda lá “escarrapachada, projectada no quadro, letras tão pequenas que ninguém conseguiu ler. Incompetência, incompetência, incompetência … Na tropa diziam “basicada”. Abrantes, desculpe a prosápia mas, precisava de descarregar esta revolta. Força Ministra, primeiro, os professores, que aprendam a ensinar, como se deve dar uma aula, como se deve preparar e depois, então, já se podem manifestar.

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