terça-feira, agosto 12, 2008

Como pode o mundo sair da crise?

Na edição de hoje do Diário Económico, Teodora Cardoso explica os caminhos para sair da crise. É um artigo extenso, que mereceria uma reprodução integral. Reproduzem-se dois extractos para espicaçar a sua leitura:
    Factos que já se tornaram claros são (i) a necessidade de corrigir os desequilíbrios macroeconómicos globais, há muito identificada, mas sem resultados práticos; (ii) a impossibilidade de estender ao conjunto das economias emergentes os actuais modelos de consumo (e desperdício) de energia e matérias-primas; (iii) a necessidade de pôr termo à liberalização insensata a que se chegou nos mercados financeiros e à balcanização dos regimes de regulação e supervisão que conduziu a que poucos tivessem consciência das disfunções que estavam a ocorrer.

    A correcção dos problemas no sector financeiro também está ligada à dos desequilíbrios macroeconómicos, em particular no que respeita à taxa de poupança das famílias americanas e ao endividamento dos Estados Unidos. Para não ter efeitos desastrosos sobre a economia americana e mundial, semelhantes aos da crise de 1929, esta exigiria que a quebra do consumo das famílias fosse compensada pelo crescimento das exportações líquidas – que está a ocorrer, em ligação com a queda do dólar – e do investimento produtivo. Atendendo à enorme capacidade científica e tecnológica americana, este devia dirigir-se para as inovações em matéria de energia e de protecção do ambiente, o que contribuiria para resolver o segundo grupo de problemas.

    Por seu turno, a política orçamental terá que orientar-se seriamente para o respeito pelos equilíbrios macroeconómicos. Tendo em conta as exigências de competitividade e o esforço que recai sobre os trabalhadores, cujas remunerações pouco beneficiaram do ‘boom’ dos últimos anos e que apenas puderam acrescer o seu nível de consumo graças ao endividamento cujas consequências agora suportam, a política fiscal americana requererá um forte ajustamento e a revisão dos seus incentivos, dirigindo-os para as condicionantes sociais e ambientais.

    Ao resto do mundo compete acompanhar e complementar esses esforços. Nos casos em que existe margem de manobra, entre os quais sobressai a China, a procura interna e a apreciação da moeda devem ser estimuladas. Nos países ricos, é essencial continuar a preservar a estabilidade monetária e a redireccionar o investimento e o consumo privado para a inovação ligada à energia e às condicionantes ambientais. Nos países emergentes, o consumo terá de subir, assim como o investimento. Também aí, porém, há lugar para o reforço dos gastos em educação e saúde e dos investimentos em infraestruturas, energias renováveis e produção agrícola, de preferência ao uso de todos os recursos disponíveis para aumentar a importação de bens prejudiciais ao ambiente.

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