quarta-feira, novembro 19, 2008

O insondável pensamento da Dr.ª Manuela

Pedro Vieira



Feita a proposta de seis meses de ditadura, logo floresceram as mais inebriantes explicações sobre o pensamento de Manuela Ferreira Leite.

Em seu apoio, o sempre arguto Marques Guedes (o tal que propôs o dia nacional do cão) veio explicar que a líder estava a criticar o autoritarismo de Sócrates e do seu Governo, no que foi logo secundado pelo Daniel Oliveira. Manuela inventou pois uma via original para aprofundar a crítica da claustrofobia democrática congeminada pelo extraordinário Paulo Rangel.

Mas para provar a riqueza do pensamento da líder, surgiram outras explicações. Alguns vieram dizer que Manuela ironizou. E neste grupo as opiniões dividem-se. Uns, como Passos Coelho, acham que foi uma graça de mau gosto; outros pensam que dá mesmo vontade de rir.

Numa arrojada interpretação e em concordância com Manuela, Alberto João Jardim veio hoje deleitar-nos com uma visão original. Ferreira Leite quis criticar o sistema constitucional português, que chegou à falência: “Tem que se fazer uma grande mudança constitucional em Portugal.

Alberto João compreendeu assim que as palavras da líder do PSD foram proferidas a sério e apontam para a revisão da constituição democrática. Só seria interessante explicar como se fará essa revisão, visto que Manuela não parece capaz de chegar democraticamente ao poder.

De outra forma mais ligeira, vários outros destacados elementos do PSD falam numa gaffe, que deveria ser corrigida. O que isto prova é que não se pode ter tudo: Manuela não é clara, não é comunicativa e não diz nada de preciso. Mas tem a rara virtude do discurso polissémico: tal como outros que a antecederam, desde os evangelistas a Kant, permite todas as interpretações.

Em Manuela, cada um vê aquilo que quer ver e a mais não é obrigado. Suspeito que o eleitorado não vislumbra nada mais do que um vasto deserto de ideias e um chorrilho de lugares comuns.

PS — Filipe, Santos Silva foi à linda cidade de Chaves e apareceu um grupo espontâneo de professores aos guinchos, tentando assim impedir a realização de uma reunião do PS. Não foi uma atitude democrática, suponho. Que tem isso a ver com as declarações proferidas por Manuela Ferreira Leite num salão após o almoço?

1 comentário :

  1. Agora todos os espontâneos são professores -mesmo quando se prova que não são! Lembram-se de uma vez o Sócrates fazer uma diatribe contra «os professores» que afinal eram sindicalistas da construção e dos texteis?

    No tempo do meu primo António, do Vimieiro, os espontâneos eram todos comunistas...

    Ao menos o meu primo assumia que não era democrata e não gostava de democracias -era honesto. Estes nem isso...

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