terça-feira, janeiro 27, 2009

Leituras

• Ferreira Fernandes, É A POLÍTICA, ESTÚPIDO!:
    “Cada um deles era o que já se chamou O Homem de Davos - se o Australopithecus nos pôs de pé, o Homo de Davos pôs-nos a julgar que seríamos ricos. Pois bem, os grupos de Thain e Rubin faliram, o Merckle suicidou-se, o Raju tem o passaporte cassado por trafulhices na sua empresa... E tudo aconteceu entre a reunião de Davos de 2008 e a deste ano, sempre em fins de Janeiro quando àquela montanha lhe dá para a magia.”
• Pedro Adão e Silva, A grande compressão:
    “Quais são então os instrumentos disponíveis para termos um padrão de distribuição de rendimento mais justo? Não há pólvora por inventar. Como também nos revela a história da Grande Compressão, à subida das taxas de imposto para os 10% mais ricos correspondeu, por si só, uma distribuição de rendimentos mais equitativa. Para além dos efeitos redistributivos, há uma questão moral que se coloca em Portugal hoje: após tantos casos de gestão danosa com fraca preocupação com o bem comum, é aceitável que quem tenha um rendimento de cerca de 4.000 euros mensais esteja no mesmo escalão para efeitos de IRS do que quem recebe 20.000 euros? Como recordava Fernando Ulrich há uns meses, a actual conjuntura torna ainda mais premente a necessidade de taxar mais os que mais ganham, daí a necessidade de criar um novo escalão de IRS para os rendimentos muitíssimo elevados. Do mesmo modo que, para proteger mais as classes médias dos efeitos da crise, é fundamental que estas possam fazer deduções maiores com as despesas sociais do que quem se encontra no escalão mais elevado.”
• Vital Moreira, O regresso da “boa América” (a publicar na Aba da Causa):
    “Na agenda doméstica, toda a atenção vai ter de ser canalizada para o ataque à profundíssima recessão que assola o país e o mundo, em consequência da crise financeira desencadeada em 2007 e alimentada pela irresponsável política de "auto-regulação" dos mercados financeiros e de promoção do dinheiro fácil. O problema é que, com a necessidade de concentrar todos os esforços financeiros nessa frente - agravando exponencialmente o já elevado défice orçamental e o endividamento público dos Estados Unidos -, Obama vai ter de adiar ou reduzir os seus programas sociais, sobretudo em matéria de sistema de saúde e de protecção social.

    No seu discurso inaugural, Obama disse claramente que, embora não existindo alternativa ao mercado como instrumento de criação de riqueza, ele tende porém a sair dos eixos, na falta de um "olhar vigilante" (watchful eye). Conjugando esta óbvia condenação do "capitalismo laissez-faire" com as medidas já anunciadas para reformar a regulação no sector financeiro, incluindo no plano internacional, a conclusão é a de que os Estados Unidos podem vir a convergir com o modelo de uma "economia de mercado regulada", na tradição europeia. E se, apesar da crise, o novo Presidente ainda puder realizar o seu programa social, então não é temerário antecipar que os Estados Unidos venham também a ficar menos distantes do "modelo social europeu", embora nas suas versões menos exigentes.”

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