terça-feira, julho 21, 2009

Leituras

• Mário Soares, Em memória de Palma Inácio:
    Em casa do Fafe entrei sozinho. Estava a almoçar tranquilamente com a família. Mas percebeu, pela minha cara, que alguma coisa de grave se passava. Disse-lhe de imediato: "Trago-te uma encomenda que deixei no carro. Posso mandá-la subir? São dois dias, não mais..." Respondeu-me: "Não tenho coragem para te dizer que não." Fi-lo subir e voltei para Lisboa. Disseram-me depois que ninguém mais almoçou. Senão ele. E, depois, deitou-se e dormiu até ao dia seguinte.
• Nouriel Roubini, A ameaça da falta de empregos:
    Os dados mais recentes revelam que as condições do mercado laboral não estão a melhorar nos Estados Unidos nem noutras economias avançadas. Nos EUA, a taxa de desemprego, actualmente nos 9,5%, deverá já ter superado os 10% no Outono. É provável que atinja um pico nos 11% algures em 2010 e que se mantenha acima dos 10% durante bastante tempo. A taxa de desemprego também excederá os 10% na maioria das restantes economias avançadas.

    Estes números relativos às perdas de emprego são maus, mas falam pela metade, pois na verdade não espelham a debilidade dos mercados do trabalho em todo o mundo. Se, por exemplo, incluirmos os trabalhadores a tempo parcial e os trabalhadores desiludidos que deixaram a força laboral norte-americana, a taxa de desemprego está já nos 16,5%. Os estímulos monetários e orçamentais, na maioria dos países, pouco ajudou a abrandar o ritmo de perda de empregos. Consequentemente, o rendimento laboral total - o produto das horas de trabalho laboradas multiplicado pela remuneração média à hora - caiu drasticamente.
• Pedro Adão e Silva, Classe média portuguesa:
    Se é hoje possível evoluir da prioridade à pobreza para as respostas sociais às classes médias é porque o país se dotou, com assinalável atraso, de uma rede de mínimos sociais dirigida às formas mais severas de pobreza. Com o Rendimento Mínimo e com o Complemento Solidário para Idosos foi possível aumentar a selectividade das respostas sociais e assegurar um mínimo de recursos materiais a todos os cidadãos, tornando-nos numa sociedade mais decente. Os dados do INE divulgados a semana passada provam-no: uma diminuição da taxa de pobreza entre os idosos (22%) de 4 pontos percentuais em relação ao ano anterior e 7 pontos percentuais se compararmos com 2004. Estes resultados revelam que abandonar a opção de fazer convergir as pensões mínimas com o s.m.n. e optar por conceder um complemento, com a linha de pobreza como referencial, apenas aos pensionistas com pensões baixas em condição de necessidade, revelou-se uma estratégia eficaz.

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