sexta-feira, setembro 25, 2009

Leituras [4]

• Baptista Bastos, Quem perdeu a honra?:
    Até o dr. Pacheco Pereira (o pobre Pacheco, como o designava Eduardo Prado Coelho), cada vez mais uma personagem de Eça de Queiroz, até ele, haja Freud!, reclama contra o silêncio do residente no Palácio de Belém.

    (…)

    Ainda há um problema não comentado na Imprensa. O caso do dossiê contendo informações sobre um assessor do Governo, que Fernando Lima teria entregue ao jornalista do "Público." Será isto possível? A Presidência da República tem legitimidade para dispor de documentos desta natureza? E Lima, manuseando este documento pessoalíssimo, não pratica uma ilegitimidade?

    Evidentemente que a "notícia" colocada no "Público" servia os interesses do PSD, sobretudo nesta quadra de eleições e na atmosfera espessa de combate e injúria em que temos sido obrigados a viver. O silêncio de Fernando Lima é estimável, como escrevi acima, mas esse silêncio compromete-o, apenas, a ele? O ambiente de conspiração e de cumplicidades sórdidas fornece um quadro de miséria moral que atinge aqueles que se acobertam e acobardam.

    O dr. Cavaco é useiro e vezeiro em actuar deste modo, quando as coisas não lhe correm a jeito. Não está à altura das funções para que foi eleito. Falta-lhe grandeza, clarividência e coragem. O mesmo aconteceu quando dirigiu o País durante duas décadas. Sobrava-lhe em dinheiro vindo de Bruxelas o que lhe faltava de perspectiva, de génio político, de estratégia nacional. Encheu o País de betão. Apenas isto. E criou uma esfera de crispação que atingiu as raias da esquizofrenia. É dramático que a memória dos portugueses seja obnubilada pela insistência dos mitos. O dr. Cavaco não foi um grande primeiro-ministro, como não é um grande Presidente da República. É um homem mediano, embaiado nos seus pequenos interesses, e um político medíocre, sem jeito para falar, pouco à-vontade com as pessoas, assustadiço, ressentido e vingativo.

    Fernando Lima serviu-o, com canina fidelidade, durante mais de vinte anos, quase vinte e cinco. Olhava por ele, vigiava-lhe os defeitos morfológicos, sussurrava-lhe o que devia dizer em circunstâncias de aperto, escreveu um panegírico sabidamente exagerado. É um cortesão, um servidor silencioso e atento. Não merecia esta pública desconsideração, este desprezo inominável. Mesmo que tudo estivesse combinado, manda a dignidade e a honra que Fernando Lima protestasse contra a extensão da exautoração presidencial.

3 comentários :

  1. Estará a base de dados da presidência devidamente legalizada? Haverá também um dossier sobre outros cidadãos?

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  2. A mana Avilleze o Rogeiro sobre isto do dossier não dizem nada.

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  3. Pelos visto os dossiers sobre pessoas/casos são normais há pelo menos trinta anos.

    É o que diz Henrique Monteiro hoje no Expresso.

    E não nos disseram nada durante tanto tempo!

    Grandessissimos f.d.p!

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