- ‘O primeiro-ministro resolveu almoçar com o ministro da Presidência e Jorge Lacão no restaurante do Hotel Tivoli, que é notoriamente frequentado por personagens da política, do jornalismo e dos negócios. Foi um almoço de amigos ou, pelo menos, de colegas de trabalho. Sem qualquer dúvida um acto privado. A certa altura, o director da SIC e Bárbara Guimarães pararam uns minutos na mesa dele e o primeiro-ministro, provavelmente inspirado pela companhia, resolveu dar a sua opinião sobre Mário Crespo, com quem anda com certeza furioso por causa do programa Plano Inclinado. Para Sócrates, como seria de esperar, Mário Crespo é um “problema a resolver”, e devia (com Medina Carreira) estar higienicamente metido num manicómio. As pessoas sempre falaram assim na intimidade. Dizer mal do próximo é um prazer velho como o homem
Mas Sócrates falou alto de mais. Tão alto que um coscuvilheiro qualquer conseguiu ouvir e começou a divulgar a conversa, ninguém sabe, ou pode saber, com que exactidão e respeito pela verdade. O que não impediu Mário Crespo de se erigir tragicamente em vítima e de contar o episódio numa “coluna” do Jornal de Notícias, que o director do dito jornal (que não é em bom rigor um tablóide inglês) se recusou a publicar. Isto provocou um enorme escândalo na imprensa e na televisão, que tomaram indignadamente o partido de Crespo e trataram Sócrates como se não houvesse a menor diferença entre o restaurante do Tivoli e a Assembleia da República. Não se percebe porquê. Parece que o primeiro-ministro não tem direito à privacidade ou que de repente a coscuvilhice se tornou numa fonte fidedigna e usável.
Se de facto assim é, daqui em diante nenhuma personagem com alguma notoriedade pública fica ao abrigo dos piores vexames. Nada agora, eticamente, impede que a imprensa e a televisão recrutem bandos de espiões com o propósito de recolher ou “extrair” todo o lixo disponível sobre criaturas de quem não gostam ou que, em geral, atraem audiências: políticos, músicos, jogadores (ou treinadores) de futebol e até, calculem, jornalistas. Claro que o exemplo vem de cima: vários deputados do PS já querem revelar na Net os rendimentos de cada um de nós. Tarde ou cedo, mais cedo do que tarde, vamos viver numa sociedade ao pé da qual a Ditadura passaria por um regime tolerante e digno. O “caso Mário Crespo” contribuiu consciente ou inconscientemente para apressar as coisas. Portugal nunca, no fundo, se habituou à liberdade.’
Ai agora o que o Vasco escreve já é para ler?
ResponderEliminarPosso concordar ou discordar dos argumentos utilizados pelos autores do blogue sobre os mais diversos esquemas, mas é difícil entender a coerência de quem utiliza os mesmos estratagemas que pretende denunciar nos outros...
Dizerem que X é mau quando critica, mas é bom quando apoia, sem que tenha havido qualquer alteração de substância no sujeito é de um vira-casaquismo igual aos dos demais...
Umas vezes concordo com o Pulido, outras não. Não terá o Miguel também esse direito de gostar e não gostar? E de, gostando, passar ao blogue, e, não gostando, não passar ou criticar? Passa-se o mesmo com o que aqui se diz. Uma vezes gosto (já agora, a maioria das vezes), outras desgosto, e algumas vezes, poucas, acho que é merda.
ResponderEliminarNão é uma questão de gosto. É uma questão de coerência na linha de pensamento (coisa que nem sempre existe em Vasco Pulido Valente, é certo).
ResponderEliminarQuando se ataca a credibilidade de um sujeito (como foi feito, repetidamente, quando VPV era comentador no Jornal de 6ª ou quando atacava Sócrates nas crónicas do Público), a utilização de uma crónica quando ela é favorável ao objectivo dos autores do blogue mostra que, também aqui, as estratégias de credibilização/descredibilização de alguém são usadas consoante o lado de onde sopra o vento...
O equivalente político seria ouvir Paulo Portas a citar Marx para defender a protecção das classes mais baixas...
Até a mim me espanta este VPV, quanto mais a eles...
ResponderEliminarAté tu,Vasco?
ResponderEliminarVai apanhar tau tau da amiga Guedes!