sexta-feira, março 05, 2010

Leituras [3]

• Pedro Adão e Silva, A miséria do sindicalismo:
    Portugal tem níveis de conflitualidade laboral (medidos pelo número de greves) comparativamente baixos e estes têm descido de modo acentuado. A administração pública é a excepção. Hoje faz greve quem pode (quem tem uma relação laboral protegida) e os funcionários públicos podem. Contudo, é também sabido, o padrão de baixa conflitualidade laboral coexiste com níveis elevados de contestação política de base sindical. No fundo, as greves servem para "ampliar a luta". As consequências da estratégia serão incontornáveis: um acantonamento político e social do movimento sindical, sem ganhos visíveis para os trabalhadores. Precisamos, de facto, de "outras políticas", mas precisamos não menos de outros sindicatos.
• Daniel Amaral, A greve:
    Quando se questionam os sindicatos sobre a melhor forma de conduzir uma política salarial, obtém-se uma resposta deste género: o ponto de partida deve ser um salário justo e as actualizações devem reflectir a inflação e os ganhos de produtividade. Esqueçamos o "salário justo", que ninguém sabe definir, e centremo-nos apenas nas actualizações: estou totalmente de acordo. Mas como é que se mede a produtividade?

    Partamos de um PIB de 100 que subiu para 105 e admitamos que os factores produtivos apenas justificam uma subida de 3. Os outros 2 são ganhos de produtividade. Do capital ou do trabalho? Não se sabe. Sabe-se que são ganhos comuns aos factores. Mas há uma forma indirecta de resolver o problema, que é medir o peso dos salários no PIB. Se o peso relativo se mantém é porque os salários incorporam os ganhos proporcionais. Sucede que, entre nós, este peso está a subir e atingiu 53% em 2009 - o mais alto da Zona euro. Conclusão: os salários subiram de mais.

    Estes números referem-se ao universo do país. Mas, de acordo com um estudo recente do Banco de Portugal, que compara remunerações médias com níveis idênticos de qualificações, os trabalhadores do sector público auferem em média 17% mais do que os do sector privado. É um cenário injusto. E teria bastado ao Governo igualar os dois sectores para reduzir em dois pontos percentuais o défice previsto para 2010. A greve foi de uma enorme falta de senso.

1 comentário :

  1. "...os trabalhadores do sector público auferem em média 17% mais do que os do sector privado. É um cenário injusto..."

    seria injusto em condições de igualdade, que não é o caso. recordo um post antigo, de onde destaco:

    "...metade dos funcionários públicos tem uma licenciatura, valor que desce para os 10% no privado...."

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