Pode tratar-se apenas de um
lobbying tão desajeitado que queima Vítor Bento. Mas a verdade é que, a esta última batalha da presidente do PSD, parece faltar-lhe argumentos para entregar a cadeira de Vítor Constâncio ao presidente do Multibanco. Que é que o recomenda? Ser conselheiro de Estado por escolha de Cavaco Silva? Ter um mestrado em filosofia (na Católica, o que pode explicar a simbiose entre economia e moralismo)? Ter sido promovido “
por mérito” no Banco de Portugal, estando a trabalhar na SIBS?
Talvez a Dr.ª Manuela se tenha deixado seduzir pelas divagações de Vítor Bento acerca da economia portuguesa. Ele tem, de facto, uma receita — de que, aliás, nem sequer pode reivindicar os direitos de autor — e não se cansa de a repetir todas as semanas em todo o lado: é preciso reduzir os salários dos trabalhadores portugueses. Ainda hoje o diz no
Jornal de Negócios:
"Não sendo expectável um dramático [sic] aumento da sua produtividade, a única forma de estes países reganharem competitividade no curto prazo é através de uma deflação relativa: isto é, e simplificadamente, os seus preços (e custos laborais) terão que baixar relativamente aos preços (e custos laborais) médios da zona euro."
Ora, tinha
aqui remetido o leitor para um conjunto de textos em que é analisado o pensamento
bentiano. E agora aproveito para
relembrar que o Prof. João Ferreira do Amaral fez umas contas e desmontou, num ápice, a ladainha da personalidade que o PSD quer como governador do Banco de Portugal:
"Recorrentemente, alguns economistas estrangeiros e portugueses vêm sugerir uma descida de salários nominais como forma da nossa economia ganhar, ou melhor, recuperar a competitividade externa que tem perdido desde meados dos anos noventa.
O problema de se fazerem afirmações como estas é que elas se referem a um assunto muito sério, que afecta de forma directa o rendimento de milhões de famílias e que, portanto exigiriam à partida uma fundamentação económica clara. O justificado alarme público que tais declarações provocam imporia, com efeito, que quem as faz demonstrasse com cálculos credíveis a justeza da sua proposta.
Do nosso ponto de vista, a proposta de redução salarial no sentido de melhorar a competitividade não tem qualquer fundamento técnico-económico sólido e revela que quem a sugere não fez um mínimo de cálculos sérios sobre o assunto.
Tentámos, por isso avaliar em que medida se justificaria uma redução salarial nominal para obtermos uma melhoria da competitividade. Para isso, como base na matriz de relações inter-industriais de 2005 (fluxos nacionais) calculámos o conteúdo em salários - conteúdo directo e indirecto (este último através das matérias-primas e outros fornecimentos que o sector exportador consome) - do sector exportador. E chegámos à conclusão que esse conteúdo é de cerca de 33%, ou seja, se os salários diminuírem (ou aumentarem) 10% os preços das exportações, tudo o resto se mantendo constante, caem (ou sobem) 3,3%. O que é que isto significa? Significa que a descida de salários é um instrumento particularmente ineficaz para melhorar a competitividade externa. Por exemplo, para se atingir uma melhoria de 20% na competitividade externa os salários teriam de descer 60%!
Porque é que isto sucede? Por um a razão evidente: é que o conteúdo directo e indirecto em importações das exportações portuguesas é muito elevado (cerca de 40%, de que uma parte importante tem a ver com o petróleo) pelo que só os restantes 60% do valor das exportações são repartidos entre salários e rendimentos do capital."
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