- ‘Estou abismado com o editorial de hoje da Helena Garrido no “Negócios”. Tomava-a por uma pessoa moderada, com alguma preocupação com estatísticas e com a análise político-económica no sentido lato. Hoje, escreve que o “excesso” de Estado social – outras vezes é, aparentemente, é apenas “dito” social – criou uma “sociedade monstruosa” porque “destruiu a rede social que existia entre as pessoas”, que “alimenta a desresponsabilização de todos”.
Confesso que me perturba ler isto de uma pessoa inteligente. A jornalista quer o quê? Que nos alistemos todos como voluntários no Banco Alimentar? Que passemos a distribuir a sopa dos pobres? E de que “rede social” é que ela fala? Será que ela percebe alguma coisa da situação de milhares de pessoas que, por exemplo, requerem o rendimento social de inserção precisamente porque perderam a rede “dita” social, que tão frágil e tão opressiva pode ser?
Portugal continua abaixo da média europeia nas despesas em prestações sociais (e não está mais abaixo porque gastamos mais do que a maioria dos parceiros europeus com o nosso sistema de pensões – em boa parte porque não aceitamos que os idosos hoje paguem pela negligência das políticas públicas do passado; ou seja, gastamos mais por bons motivos). Por isso, a conversa da “sociedade monstruosa” e do “Estado social monstruoso” é algo que não se aplica apenas a Portugal, mas à União Europeia, bem como outros países da OCDE.
Qual é exactamente o modelo "não-monstruoso" que Helena Garrido defende? Uma vez que não é o norte-americano – dado que esta sociedade é também “monstruosa”, mas aqui precisamente pela ausência do Estado Social (!) –, é qual? Lamento que alguém como a autora se entregue a diatribes puramente ideológicas de tão má qualidade.’
Não tinha lido e partilho a sua perplexidade...
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