José Guilherme Gusmão analisa os dados, ontem divulgados, da Execução Orçamental até Agosto. Estou de acordo, em vários pontos, com a sua análise.
Com efeito, Gusmão faz bem em começar por chamar a atenção para as posições tendenciosas da oposição: “visões parciais promovidas a este respeito (as árvores que cada um escolhe para pôr a floresta ao seu jeito)”. Logo de seguida, sublinha “as boas notícias na frente orçamental [que] estão ligadas a alguns dos melhores (ainda que tímidos) sinais de recuperação económica”, não deixando escapar que “[o] maior enviesamento deste debate é o total monopólio das questões relacionadas com a despesa, como se o ajustamento orçamental não se promovesse dos dois lados.” Há, de facto, aqui um sistema de vasos comunicantes que as famosas “elites” teimam em ignorar.
Relativamente à despesa, Gusmão põe em relevo que “entre os dados mais interessantes estão os saldos positivos (e crescentes) na Saúde e na Segurança Social” concluindo o seguinte: “Isto é uma chatice para Passos Coelho porque mostra que, se estas são áreas determinantes pelo seu peso orçamental, estão longe de ser aquelas em que a despesa está descontrolada.”
Finalmente, Gusmão dá conta das suas preocupações relativamente ao desemprego. Mas ele sabe que nós sabemos que ele sabe que a crise internacional apenas acelerou o choque estrutural que a economia portuguesa vinha sofrendo com a entrada no euro, o aumento da concorrência asiática e o alargamento ao Leste. Não é com um toque de mágica que se soluciona o problema do desemprego.
Aqui chegados, põe-se-me a questão: se tenho estado de acordo com Gusmão, serei bloquista?
Talvez não. Porque há sempre um momento em que um bloquista tende a fazer demagogia. Um exemplo: ao fazer alusão à queda da receita fiscal em sede de IRS, Gusmão escreve: “-7,7% na tributação progressiva dos rendimentos do trabalho e alguns de capital, apesar do aumento das taxas”. A quebra de receita com origem na “tributação progressiva dos rendimentos do trabalho” acontece porque houve um aumento do desemprego, logo menos rendimentos do trabalho sujeitos a tributação. Não se pode tributar os rendimentos de quem não os tem, “apesar do aumento das taxas”.
Acho que não se confirmam os sintomas de poder estar atacado de bloquismo. Se calhar, o problema é precisamente o contrário. Um dia destes volto ao assunto, mas faço-me acompanhar do Dr. Freud.
Acabei de ouvir o Peres Metello na TVI a dizer que está tudo bem na execução orçamental e que o aumento dos gastos tinha sido autorizado pela UE. Tendo em conta a isenção do comentador fiquei muito mais descansado. Espero que os “mercados” também tenham ficado convencidos e que amanhã resolvam emprestar-nos mais dinheiro a um juro mais acessível!
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