- ‘(...) As eleições irlandesas foram convocadas logo a seguir à negociação da ajuda europeia. A tentação do PSD pode ser a de seguir o mesmo caminho. Esperar que a chanceler nos obrigue a pedir a intervenção do fundo de resgate e provocar uma crise a seguir. Seria muito mais cómodo apontar a culpa ao Governo de Sócrates pela humilhação nacional, mesmo que, tal como aconteceu na Irlanda, pouco houvesse a modificar no pacote de austeridade. Aliás, o futuro Governo irlandês, se contasse apenas a vontade do Fine Gael, seria ainda mais duro no corte das despesas pública e mais parco no aumento dos impostos, o que não andará muito longe da receita que o PSD pode vir a apresentar aos eleitores.
Percebe-se que a oposição diga todos os dias que o Governo não quer pedir ajuda, porque quer manter-se no poder. Como se percebe um certo desejo da oposição de ver uma missão da Fundo de Estabilização e do FMI aterrar na Portela para impor as suas condições. É difícil de aceitar que isso seja bom para o país. Por duas razões sobre as quais vale a pena meditar.
A Irlanda está a pagar juros muito altos pelo empréstimo europeu e continua a financiar-se nos mercados com juros que ultrapassam os 9 por cento. Pode ter evitado a bancarrota, mas não aliviou as condições de financiamento. Hoje já pouca gente se questiona sobre o facto de a ajuda europeia a Atenas e a Dublin, apesar do esforço titânico dos dois países para endireitar a vida, não ter conseguido produzir grandes resultados. A pergunta é, pois, de que serviria essa intervenção, se os ganhos são tão pequenos? Ainda falta ouvir uma resposta cabal.
E, depois, há a questão europeia. Obrigar Portugal a pedir a intervenção do fundo de socorro serviria para quê? Para evitar o contágio à Espanha? Ninguém pode garanti-lo. Para convencer o eleitorado alemão de que Merkel é suficientemente dura com os infractores do Sul? O que é que ganha com isso? Levar Pedro Passos Coelho a tirar uma foto com a chanceler no meio de uma campanha eleitoral para depois ir renegociar um acordo com ela?
Sócrates tem hoje, em Berlim, um encontro crucial com Angela Merkel que, provavelmente, não terá como resultado aquilo que muita gente dentro e fora do PSD desejaria. Não vale a pena ter pressa. O PS terá de enfrentar o seu "dia de raiva", seja ele amanhã ou um pouco mais tarde. Até lá, o que verdadeiramente é preciso para Portugal é que Merkel tenha vontade e coragem política para negociar um acordo com os seus pares europeus que resolva os problemas do euro de uma vez por todas - incluindo um fundo de estabilização que seja um verdadeiro mecanismo de solidariedade europeia e não um castigo para os infractores. Se Passos Coelho puder ajudar nalguma coisa, é a convencer a chanceler disso mesmo.’
"A Irlanda está a pagar juros muito altos pelo empréstimo europeu e continua a financiar-se nos mercados com juros que ultrapassam os 9 por cento."
ResponderEliminarSe soubesse do que fala não dizia asneiras.
A tx de mercado é de facto de 9%, contudo uma vez pedida a ajuda a Irlanda tem uma linha de crédito a 5.8% a 5 anos que lhe cobrem as necessidades de financiamento. Logo a taxa do mercado secundário até pode estar nos 1000% porque o fundo empresta a 5 anos a 5.8% (e a Grécia tem a taxa a 5 anos do fundo a 5%).
A nossa taxa a 5 anos já ultrapassou os 6%, logo quanto mais tarde mais alta será a taxa exigida pelo fundo de estabilidade.
PS: Tenha a coragem de publicar.
Ass:
André Madeira
Pois é André, os 5% servem de muito à
ResponderEliminarGrécia... Tanto que até o que já se fala "à boca pequena" em Bruxelas é
da reestruturação da dívida grega:
http://bruxelles.blogs.liberation.fr/coulisses/2011/02/la-dette-grecque-bient%C3%B4t-restructur%C3%A9e.html
Parece que a linha de ajuda do FMI está a colapsar mesmo antes de Portugal recorrer a ela.
Por muito que os seus amigos banqueiros queiram perpetuar a farsa, parece que desta vai ser difícil e vai mesmo sair algum do bolso deles.
Sr.Madeira,
ResponderEliminarSe, Vexa, não fosse inteligente, como denota, o que gostaria de ser?
Bem prega Passos Coelho "não queremos ser pau para toda a colher".
Conhecera o líder Vexa. e, porventura, substituiria o "pau" por "madeira". Quem sabe?
Mas, vamos ao ponto.
Porque precisa a Irlanda e a Grécia de ir ao mercado colocar divida soberana?
O que diziam aos gregos e aos irlandeses antes do pedido de resgate?
O que diz a oposição (PSD e CDS) ao Governo português?
Ide ao Fundo de Estabilidade e os mercados vão sossegar...
Ora aqui é que bate o ponto, caro senhor Madeira.
É que não sossegam...como se vê pela Grécia e pela Irlanda.
O que diz Vexa, além de inteligente e competente é, desculpar-me-á o ênfase no elogio,é óbvio e sabe-se.
A jornalista por obrigação de métier e o blogger por saber demonstrado.
A sua ameaça...depois de um PS, deixe-me que lhe diga, teve graça e não aborreceu ninguém.
José Albergaria
Caros colegas de comentários, o que disse foi que a Irlanda não se está a financiar a 9%, está-se a financiar a 5.8% e quanto mais tarde um país pedir ajuda mais cara será essa ajuda.
ResponderEliminarNão advoguei que se pedisse ajuda, nem que se deixasse de pedir. São apenas factos, e apenas isso.
Quanto à restruturação da dívida Grega, penso que a Grécia tinha (tem) um problema de dívida pública e de défice externo que estará para lá de qualquer outra solução que não um default parcial. O problema é que a segur terão de viver sem se financiar durante alguns anos (défice zero e nessa altura veremos quais as consequências)
O caso português ainda não está nesse nível, as medidas tomadas agora foram no bom sentido. Veremos a execução.
PS: Última vez que comento algo deste blog, pq se os factos não convêm à vossa verdade começa-se por atacar de forma subtil (mas pouco) o mensageiro.
PS2: E, finalmente, o anterior Post Scriptum não foi uma ameaça, foi um desafio, mas se calhar não percebem a diferença.
Ass.
A.M.