quarta-feira, abril 20, 2011

Freitas, jubilado, já não estuda [2]

Vimos ontem, através da evolução entre 2006 e (a projecção para) 2011 do peso da despesa pública em % do PIB, que o que se passou em Portugal em 2009 correspondeu exactamente ao padrão da maioria dos países da OCDE – onde o engenheiro Sócrates não governa.

Mas o que explica, então, a diferença dos défices entre países no mesmo ano. Por que motivo os países periféricos apresentaram défices orçamentais mais elevados em 2009, que tiveram impacto nas políticas de ajustamento a que foram obrigados em 2010 e 2011?

A explicação fundamental, apesar de esquecida pela maioria dos comentadores, é simples: a perda de receita (fiscal e não-fiscal)¹.

Vejamos o que aconteceu com Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha (1.º gráfico) em relação à maioria dos outros países europeus - a começar pela Itália, que não teve qualquer quebra de receita em 2009; por isso, o seu défice não foi alem dos 5,4% do PIB nesse ano, substancialmente inferior ao de Portugal (9,4%), Espanha (11,1%), Irlanda (14,2%) e Grécia (13,7%).

Evolução da receita fiscal e não-fiscal em % do PIB
em Portugal, Espanha, Irlanda, Grécia e Itália (2006-2011)


Se continuarmos a comparação nos gráficos seguintes, vemos que os países do grupo da Áustria, Bélgica, Alemanha, Holanda e França tiveram uma quebra assinalável de receita em 2009 (a redução do peso da receita fiscal da Alemanha e da Holanda ocorre em já só em 2010, mais por efeito do regresso do crescimento do que por uma quebra súbita de receitas).

Evolução da receita fiscal e não-fiscal em % do PIB
em Portugal, Áustria, Bélgica, Alemanha, Holanda e França (2006-2011)


No grupo dos países do Leste europeu, 2009 foi um ano difícil do ponto de vista da receita apenas para a Polónia (que apresentou um défice de 6,8%).

Evolução da receita fiscal e não-fiscal em % do PIB
em Portugal, Rep. Checa, Polónia, Eslováquia e Eslovénia (2006-2011)

No grupo dos países escandinavos, o único país com quebra de receita assinalável em % do PIB foi a Noruega, facto largamente explicado pela quebra dos preços do petróleo entre 2008 e 2009. A Finlândia, por exemplo - tão na berra nos últimos dias -, conseguiu um défice baixo em 2009 (2,7%) não por ter gasto menos que Portugal – pelo contrário, o peso da despesa pública no PIB subiu entre 2008 e 2009 de 49,3% para 56%, enquanto em Portugal a despesa subiu de 43,6% para 48,1% no mesmo período -, mas porque não teve qualquer quebra assinalável do lado da receita (que passou de 53,5% do PIB em 2008 para 53,2% em 2009).

Evolução da receita fiscal e não-fiscal em % do PIB
em Portugal, Dinamarca, Finlândia, Suécia e Noruega (2006-2011)

Por fim, a forte perda de receita ajuda também a explicar os enormes défices norte-americano (11,3%) e britânico (11%) em 2009.

Evolução da receita fiscal e não-fiscal em % do PIB
em Portugal, Reino Unido, EUA, Canadá e Japão (2006-2011)


Conclusão: por comparação com o resto da Europa, o que tramou os países periféricos em 2009 (com impacto em 2010 e 2011, naturalmente) foi menos a subida da despesa – semelhante em todos os países - do que a quebra das receitas.

Só que isto não interessa dizer, não é?
    Pedro T.
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¹ Todos os dados usados estão disponíveis aqui: na página 299 encontram-se os relativos à despesa, na página 300 os relativos à receita.

4 comentários :

  1. Sugestão: apresentem estes dados à troyka!

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  2. finalmente um conjunto de gráficos despesa/receita para contrariar a retórica mentirosa que nos impingem diariamente. pode ver-se perfeitamente que o défice é o resultado essencialmente do decréscimo de receita (é isso a crise!) e não do aumento da despesa, contrariando o que nos tentam vender comentadores, jornaleiros, directores de jornais economicos e quejandos que têm como único objectivo levar ao colo o ppd.

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  3. Eu so espero que o Socrates pegue nestes numeros, assim como nos referentes a evolucao das dividas publica e privada e os leve para a campanha eleitoral (vide a recente analise do R. Schiappa na ER) e nao que passe todo o tempo a culpar o PSD pela queda do Governo (ja toda a gente percebeu que o PPC tem muitas culpas no cartorio). E que a verdadeira funcao de um Governo e defender o seu legado e nao fazer oposicao a Oposicao. Ah, e ja agora, dado que um dos aspectos mais negativos da nossa vida politica e a promiscuidade entre os partidos, o aparelho do Estado e as empresas, sera que o PS vai ter coragem de assumir os erros e propor formas transparentes de nomeacao dos Funcionarios Publicos Superiores, dos Gestores Publicos e dos Gestores nomeados pelo Estado em empresas participadas pelo mesmo, no seu Programa de Governo, de modo a que episodios como os da PT nao se repitam?

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  4. O Sócrates vai trucidar o Coelho no frente a frente, para todos os portugueses verem

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