"Uma tentativa de transformar uma eleição democrática numa mera caricatura de si mesma"

• São José Almeida, Pós-democracia II: a provocação Nobre [ontem no Público]:

‘O PSD, um dos partidos estruturantes da democracia portuguesa, afronta o sistema político ao propor Fernando Nobre para presidente da AR. E esta afronta surge não porque não se possa propor um independente como candidato a deputado, claro que pode. Também nada impede que um independente seja presidente da AR.

Agora o que não faz qualquer sentido é o PSD propor para tal lugar do Estado alguém que, ainda há três meses, fez a campanha eleitoral anti-sistema que Fernando Nobre fez, para mais contra um candidato apoiado pelo PSD e que foi presidente do partido e primeiro-ministro em sua representação durante uma década, Cavaco Silva.

Um partido que respeita a democracia representativa, respeita as cidadãs e os cidadãos que são quem teoricamente detém o poder e o delega na representação parlamentar. É isso que é um Parlamento democrático. É um órgão em que está representado o soberano, através dos mandatos dos deputados. E propor para presidente desse órgão alguém que tem um discurso que põe em causa esse sistema de representação é revelar falta de respeito por quem nele é representado, o soberano, o povo, ou seja, os cidadãos portugueses.

Mostra mesmo uma possível tentativa de manipulação dos critérios democráticos de representação e de soberania popular. Sinal de que provavelmente quem se representa é outros interesses que não os do soberano em democracia. Uma tentativa de transformar uma eleição democrática numa mera caricatura de si mesma.’