Porque o Acordo não foi tão mau quanto se anunciava

O acordo alcançado entre o Governo e EU/FMI não é, afinal, tão mau como podia ter sido. Julgo que três factores explicam o essencial deste resultado.

Em primeiro lugar, os ensinamentos retirados da má experiência dos planos de resgate da Grécia e da Irlanda, confirmando, de forma lapidar, que o país só teve a ganhar com o adiamento deste pedido. Tivesse o PEC IV sido aprovado e, muito provavelmente, este pedido nem seria necessário.

Em segundo lugar, o acordo ontem anunciado, sendo de inegável austeridade, não reflecte o cataclismo que se anunciava. E convém recordar o que alimentava esse cataclismo: a ideia que as contas nacionais não eram transparentes e que escondiam todo o tipo de ossaturas (em armários, baús ou quejandos). Na impossibilidade de refutar uma insinuação desta natureza (que as contas públicas são obscuras), o pacote de ontem é a prova possível do embuste desta linha instigada irresponsavelmente pelo PSD. Afinal não há esqueletos, apenas muitos macaquinhos no sótão.

Por último, os termos acordados sugerem que terá valido a pena negociar e explicar a realidade do nosso país aos representantes da UE e do FMI, tornando desta forma incompreensível perceber a estratégia de quem se alheou desta responsabilidade, com medo de sujar as mãos (à esquerda) e, sobretudo, dos que tanto apostaram na política da terra queimada (PSD), com o óbvio intuito de obter dividendos políticos com a associação de Sócrates ao Hades.

Paulo F.