- 'Vamos por números. O novo programa de emergência social vale 400 milhões de euros. Metade do imposto de Natal. Menos do que o Estado admite este ano pelo buraco BPN. O programa dura até 2014 e promete muito, gasta pouco. De um governo preso à despesa social passámos para outro que entrega a assistência a terceiros. As IPSS. A Igreja. As associações informais. Passos e Portas acreditam que estas serão capazes de suprir as necessidades dos mais pobres quando o Estado já não tem dinheiro para os sustentar.
O raciocínio - e este pacote de emergência - tem três problemas. O primeiro é gastar pouco: 400 milhões para três milhões de pobres dá 130 euros por ano, 10 euros por mês. Quem é que sai da pobreza assim? Ninguém. Pior: estes 400 milhões não são despesa nova, apenas uma realocação da antiga. E 20% serão utilizados para pagar pensões mínimas, deixando menos margem para o resto.
O segundo problema é financeiro e político. A austeridade e a saída do Estado das funções sociais (a troika exige a primeira, abomina a segunda) reduziu o assistencialismo ao mínimo possível. Este pacote de emergência parte da falência para impor uma estratificação social clara. Pela primeira vez há duas classes: os muitos pobres e os outros. O Estado (falido) desiste de ser socialmente progressivo e concentra apenas em alguns a protecção financiada por todos. E isto pode ser especialmente preocupante quando a recessão está rapidamente a derrapar para a classe média esmagada pela carga fiscal.
O terceiro e último problema é ideológico. Este governo (e sobretudo o CDS-PP) ainda não conseguiu ultrapassar a ideia pré-concebida de que o Estado subsidia uma enorme fatia de preguiçosos. Já foi assim, já não é. As alterações ao rendimento social de inserção, o aperto ao subsídio de desemprego, o fim dos abonos de família limitaram o efeito do desperdício. Ainda há quem durma à sombra da bananeira. Mas são cada vez menos e cada vez mais mal pagos.'
Uma colossal análise sociológica! Eu acrescentaria: eles são lindos de morrer.
ResponderEliminarNão percebo as criticas ao programa por ser ideológico. O estado assegurar funções sociais também não é ideológico?
ResponderEliminarah e tal é ideológico é igual ao ah e tal é do tempo... parece que ter opções ideológicas só é bom se forem iguais ás nossas, ou o TGV não é ideológico? e Nunca foi criticado apenas por ser uma opção ideológica... ah e tal porque o TGV é ideológico.
Primeiro, limitar o papel social do estado á caridadezinha publica e aos trabalhos forçados para os " malandros" do RSI e do subsidio do desemprego, encerra em si uma lógica de ideologia : a da direita bacoca e salazarenta.
ResponderEliminarSegundo, qual o problema das opções ideológicas? Há boas e más como em tudo na vida e as boas e más dependem da observação de cada um. Aqui pelo corporações , ideologias bacocas e com laivos de paternalismo são mal vistas , se o leitor achas que são boas para si optimo, vá em frente.
Quero lembrar-lhe que o fascismo também é uma ideologia, mas estou em querer que o leitor concordará, é uma ideologia condenável.Se mesmo assim não percebe o problema das ideologias sugiro-lhe um cursozinho de formação civica e ética.