"É deprimente o relato que nos fazem [do Álvaro] os parceiros sociais - sindicatos e associações patronais"

Óscar Gaspar, membro da comissão política e coordenador económico do PS, dá hoje uma entrevista ao outrora luminoso Sol. Eis algumas passagens da entrevista:

Na reunião do PS com a troika que sensibilidade houve para as posições socialistas?
A troika admitiu algo que para o PS é fundamental: não há programa de ajustamento que resulte sem crescimento económico. A consolidação orçamental não basta.

O PS já se conformou com impossibilidade de conseguir devolver um subsídio aos funcionários e pensionistas?
De forma nenhuma! O PS não desiste e é nisso que estamos a trabalhar Mas o Governo, tendo maioria, tem a faca e o queijo na mão. Assumirá as suas responsabilidades. Agora, constato que depois de uma abertura inicial do Governo, houve um recuo e agora demonstra inflexibilidade.

(..)

O acordo da troika precisa de ser alterado?
O ajustamento previsto era de 3 mil milhões e agora será de 7 mil milhões. A troika devia ter em conta que a situação é hoje diferente. Até porque é importante que os portugueses, por desespero, não ponham em causa o objectivo global. Nós não estamos aqui apenas para cumprir como bons alunos todos os itens. O PS pôs esta questão à troika.

(…)

O país pode estar descansado…
Alerto aqui para uma dificuldade: estamos num jogo de equipa. O objectivo de um ministro [numa referência a Vítor Gaspar] não é o de ser o ‘Most Valuable Player’ (o jogador mais valioso], num campeonato em que leve a equipa à derrota. O meu medo é que ele tente ser o melhor jogador e que a equipa perca. Falta um contraponto no Governo, falta alguém que diga que estamos a ir longe de mais no monetarismo.

Fala do ministro da Economia?
Seria normal que assim fosse. Mas em última análise terá de ser o primeiro-ministro. Portugal não sai da crise só com consolidação orçamental, precisa de crescer. Vítor Gaspar pode falhar por excesso de competência. (…) Santos Pereira está a falhar claramente na concertação social. É deprimente o relato que nos fazem os parceiros sociais - sindicatos e associações patronais. Não tem capacidade de diálogo. E falta estratégia económica, os empresários estão desanimados. O gigantismo do ministério também é um problema, aí Santos Pereira não tem culpa.

(…)

O senhor foi secretário de Estado da Saúde, com funções de controle financeiro. Incomodou-o a crítica demolidora de Paulo Macedo ao estado das contas?
Preocupa-me ministros obcecados com o cumprimento dos objectivos da troika, fazendo que o memorando tenha as costas largas. O memorando diz que todos os portugueses devem ter médico de família, espero que o ministro não se esqueça disso. E porque é que ainda não se avançou com o Centro Hospitalar de Coimbra ou com o Hospital de Todos os Santos em Lisboa? Vão concentrar serviços, poupar recursos.

Trabalhou com José Sócrates, agora está com Seguro. São políticos muito diferentes.
Trabalhar com Sócrates foi um privilégio. Tinha uma determinação fantástica. A história vai fazer-lhe justiça. As pessoas não se recordam da situação do país em 2005, quando tomou posse. Tirou-nos da crise profunda em que estávamos desde 2003, com medidas bandeira. O actual secretário-geral do P5 é um amigo de há longos anos. Alguém com quem tenho uma excelente relação pessoal e que está num trabalho muito difícil, a de criar uma oposição que seja alternativa ao actual governo.