quinta-feira, janeiro 12, 2012

"O populismo é o irmão mais novo do autoritarismo"

• Miguel Gaspar, Procurando maçons nas prateleiras do Pingo Doce [hoje no Público]:
    'Passando para as sinfonias de Mozart tocadas em balanço de música de dança (49 batidas por minuto, a Maçonaria já não é o que era), a caça ao pedreiro-livre que tomou conta das mentes é outra prova de como os excessos justicialistas deixam intactos os verdadeiros problemas. Reina no país uma febre do avental e ganhou direito de cidade a tese de que os maçons devem ser obrigados a assumir publicamente a sua condição, se ocuparem cargos públicos. Acontece que esta exigência é claramente um atentado à liberdade individual. Neste sentido, a Maçonaria tem toda a razão. E se não vale a pena ir ao ponto de se falar num regresso ao salazarismo, como fizeram alguns, há em tudo isto uma pulsão quase persecutória.

    A Maçonaria, no seu todo, tornou-se um bode expiatório conveniente para que não se fale de um problema muitíssimo grave e sem solução, que são as ligações entre uma loja maçónica em concreto e os serviços secretos e a prova de que a fiscalização desses serviços pelo Parlamento não existe, por causa dessa mesmíssima loja maçónica, que não pode ser confundida com toda a Maçonaria (as novas, ao que consta, não valem nada ao pé das velhas; impõe-se mais atenção ao franchising maçónico).

    A polémica em torno do relatório parlamentar sobre as secretas, do qual foram retiradas todas as referências à Maçonaria mostrou a falência da Assembleia da República quanto à fiscalização das secretas que só ela pode assumir. Perante essa falência, resta o vazio. É matéria sobre a qual teria sido interessante ouvir o primeiro-ministro e a presidente da Assembleia da República.

    Sobrou para a Maçonaria cujos membros, face a toda esta pressão, têm tudo a ganhar em rejeitar o secretismo. Por opção e não por imposição. O secretismo é um direito, mas, nos tempos modernos, não faz qualquer sentido e transformou-se num biombo por trás do qual há muito se praticam os mais obscuros tráficos de influências. Se a Maçonaria se quer demarcar desta imagem, deve dar um passo em direcção à transparência.

    Mas quanto às secretas e aos conflitos de interesse que a rodeiam, o silêncio é de rigor. E estão aí os verdadeiros segredos que precisavam de ser revelados...'

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