terça-feira, fevereiro 21, 2012

O triângulo estratégico português (Lisboa/Funchal/Ponta Delgada)

José Loureiro dos Santos, Geopolítica da crise europeia e o futuro de Portugal [hoje no Público]:
    ‘Mesmo que Berlim não tenha tido a intenção de usar a crise das dívidas soberanas dos estados europeus do Sul - para já dos periféricos, eventualmente mais tarde dos outros -, para os submeter politicamente, a situação vem-lhe propiciando um quadro de decisões que têm funcionado nesse sentido.

    Os métodos de apoio alemães aos países devedores têm exigido uma austeridade que se justifica, mas sem medidas claras de apoio ao crescimento económico, o que tem reforçado a dependência dos periféricos. Ou seja, a austeridade tem funcionado como instrumento estratégico de manutenção do poder sobre os países endividados, gerando reações negativas dos seus cidadãos.

    Uma eventual alteração das orientações seguidas até agora - apoiando o crescimento económico da periferia europeia - proporcionaria uma melhoria de bem-estar à região, o que poderia alterar a natureza dos laços (e dependência) com Berlim, mas teria o risco de permitir situações de desenvolvimento económico que favorecessem o caminho para uma autonomia que desagradasse aos alemães. Os periféricos obedecerão ao centro europeu enquanto precisarem de dinheiro; ficam em condições de se subtrair ao seu domínio quando forem criadas alternativas ao financiamento de que necessitam.

    Veremos se o aumento substancial e generalizado, já anunciado, dos salários dos trabalhadores alemães, fazendo aumentar o respetivo consumo, consegue dinamizar as exportações dos países em crise para a Alemanha, substituindo a dependência da periferia em relação ao núcleo por uma interdependência que solidifique as relações mútuas, o que satisfará o interesse alemão, alargando a sua influência e poder até às costas marítimas.

    Entretanto, se a Europa for evoluindo para a constituição de um bloco de poder continental a partir da Alemanha, Berlim não consentirá em relações políticas ou económicas dos periféricos com potências extraeuropeias. Assumirá diretamente esse relacionamento, colocando-se como candidato a integrar o governo mundial, ao lado de Washington, Pequim, Moscovo, Nova Deli e Brasília.

    A consolidação deste bloco de poder poderá criar imensos problemas aos países ribeirinhos do Atlântico que o integrem, nomeadamente a Portugal, o que dependerá do posicionamento que uma Alemanha imperial adote em relação aos EUA, cuja posição de potência marítima dominante tem todas as condições para perdurar. Precisarão de manter na sua órbita o triângulo estratégico português (Lisboa/Funchal/Ponta Delgada), assim como as posições chave que lhes permitam dominar as linhas de abordagem marítima ao continente. Como estas posições terão igual importância estratégica para o bloco continental, será muito grande a probabilidade de elas serem disputadas entre os dois grandes poderes (marítimo e continental), o que colocará novamente Portugal no caminho dos conflitos.’

3 comentários :

  1. O que o sr general deveria saber é que o grande conflito que o povo português devia enfrentar era a exploração da sua plataforma continental.São 1.720.560 quilómetros quadrados, ou seja 19 vezes a dimensão terrestre.
    Vai ficar para os alemães explorarem?

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  2. Como analista geopolítico o Sô General Loureiro dos Santos é uma anedota.
    A frase mais hilariante de todo o texto é:
    "Veremos se o aumento substancial e generalizado, já anunciado, dos salários dos trabalhadores alemães, fazendo aumentar o respetivo consumo, consegue dinamizar as exportações dos países em crise para a Alemanha"
    Quem sequer põe a hipótese de isto acontecer não vê um boi de economia.
    Na realidade ao enfraquecer a UE a Alemanha pôs-se à mercê das potências que tenham um interesse em preservar um pólo Europeu com alguma autonomia em relação aos EUA, nomeadamente a China e a Rússia.
    Estas, face à cretinice das elites políticas europeias, bem podem preferir lidar directamente com os EUA, e aí a Alemanha juntamente com a UE desaparecem na irrelevância geopolítica.
    Finalmente, para um ex-militar o Sô General passa por cima das relações de poder militar em que a Alemanha está em substâncial desvantagem em relação aos seus pares na arena geopolítica. Aliás a Alemanha é pouco mais forte nesse campo que a Grécia:
    Ao contrário do que se quer fazer crer não foi em "funcionários públicos preguiçosos" que a Grécia andou a estoirar o dinheiro, mas nos eternos preparativos para uma eventual guerra com a Turquia.
    Passo a citar: "According to NATO, in 2008, Greece spent 2.8 percent of G.D.P. on its military, or about €6.9 billion, or around $9.3 billion. Greece is the largest importer of conventional weapons in Europe and its military spending is the highest in the European Union (relative to G.D.P)."
    (ver:
    http://en.wikipedia.org/wiki/Greek_Armed_Forces )

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  3. A continuar assim, não são precisos tanques nem aviões para tomar conta da Europa.

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