• José Pacheco Pereira, Por que é que já não posso ouvir dizer que "não há alternativas" [hoje no Público]:
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¹ Pacheco Pereira está ao corrente das conversas semanais entre o Presidente e o primeiro-ministro?
- ‘Hoje, o discurso de que "não há alternativas" é o argumento ad terrorem do Governo e do poder. É falso, propagandístico e o seu principal efeito é cobrir tudo o que tenha origem no Governo como sendo inevitável e infalível. Serviu para justificar a meia hora de trabalho suplementar, o IVA da restauração, o aumento exponencial do desemprego, a destruição experimental de parte das nossas pequenas empresas, vistas com desprezo pelos admiradores serôdios das dot.coms e dos gadgets, alimentou o exercício do poder político forte para os fracos e débil para os fortes. Serviria para justificar a TSU se as coisas não tivessem corrido tão mal. E tornou-nos num país que exporta ouro derretido das poupanças familiares, medicamentos que faltam no mercado nacional e que vão para Angola e automóveis devolvidos porque não se conseguem vender. O negócio do ouro, excelentemente personificado num anúncio televisivo de António Sala, marca os tempos actuais como a valise en carton da emigração ou os contentores dos retornados. E tornamo-nos num país que não cumpre... o memorando da troika.
De há um ano para cá, muita coisa mudou no próprio terreno do memorando da troika, nos seus co-signatários credores, na percepção do carácter perverso da "fadiga da austeridade", abrindo novas alternativas que o parceiro português recusou in limine. Mudou o contexto europeu e mudou favoravelmente, mas o Governo português nunca usou a sua boa imagem junto da troika e da Alemanha para obter uma racionalização do programa da troika, sem ser em desespero de causa e em posição de fraqueza pelo incumprimento, porque não quis. A margem de manobra não era muita, mas existia, só que o Governo quis usar o memorando para prosseguir uma agenda ideológica própria e, para isso, era útil ter um pretexto externo.
Fez orelhas moucas a qualquer proposta de alternativa, incluindo as que vinham de sectores que lhe eram próximos, como as prevenções de Manuela Ferreira Leite e do Presidente da República, em privado e em público¹ (…)’
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¹ Pacheco Pereira está ao corrente das conversas semanais entre o Presidente e o primeiro-ministro?
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