segunda-feira, novembro 05, 2012

"Ir além da troika" "custe (ou não) o que custar"


Custe o que custar” foi uma expressão usada por Passos Coelho para, fazendo crer que estava apenas a cumprir o memorando da troika, justificar a situação das finanças públicas em 2011, quando os dados conhecidos do 2.º semestre desse ano revelavam, de antemão, a existência de um colossal desvio orçamental. Com estas declarações, Passos Coelho, procurando dar de si a imagem de um homem determinado, escamoteava no entanto que a situação que se vivia já era o resultado óbvio da política adoptada pelo Governo: “Estamos a ir além do memorando da troika.”

Esse propósito de “ir além da troika” intensificou-se no Orçamento do Estado para 2012. Quando o “Programa de Assistência Económica e Financeira” exigia medidas de consolidação orçamental no valor de 5.073 milhões de euros, o Governo decidiu agravar a austeridade, elevando-a para 9.042,3 milhões (Relatório do OE-2012, p. 22, na versão em papel, ou p. 30, na versão on-line).

Neste contexto, parece que o acento tónico do combate à política do Governo deve incidir no facto de Gaspar e companhia terem decidido “ir além da troika” e não nas bravatas de Passos Coelho, que têm o condão de desviar a atenção do essencial.

E o essencial é que, em 2012, o Governo vai derreter mais de 9.000 milhões de euros para reduzir o défice em um ponto percentual (numa perspectiva optimista).

PS — A este propósito, na edição de sábado do Público, o dirigente do PS Eurico Brilhante Dias escrevia: “A política da austeridade, custe o que custar, falhou.” Julgo que o que falhou foi a circunstância de o Governo ter decidido “ir além da troika” e não a pretensa valentia de Passos Coelho de querer, “custe o que custar”, cumprir o memorando.

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