Como o Prof. João Ferreira do Amaral não fala todos os dias para os jornais, o melhor é aproveitar para ler do princípio ao fim esta entrevista que hoje dá ao Dinheiro Vivo (e à TSF). Aqui ficam alguns excertos:
- ‘Se o Orçamento for adiante como está, sim, acho que não teremos menos do que 3% de recessão. O consumo vai descer mais do que o governo prevê. A austeridade é mais funda para o ano que vem do que este ano e as famílias estão muito endividadas. Portanto, medidas de redução de rendimento em geral, quando as famílias estão muito endividadas, amplificam muito os efeitos. Se além disso houver já algum corte de despesas a nível social, as famílias têm mesmo de o fazer - e, portanto, se o Estado obriga a que isso seja financiado pelas famílias, elas deixarão de consumir mais noutros aspetos. O consumo vai descer bastante e isso provocará uma recessão maior e desemprego maior.’
‘(…) Eu não digo que possamos ter um crescimento muito grande, mas pelo menos estou plenamente convencido, e digo-o sinceramente: se a carga fiscal não fosse aumentada na proporção que vai ser, teríamos mais chances de cumprir o défice de 4,5% do PIB. Só que assim, porque a recessão provavelmente não existiria, ou seria muito suave, esta vai ser de tal maneira que não vai ser possível cumprir os 4,5% do PIB. A quem é que isto serve? Eu não entendo. É um mistério que não compreendo, que já se deu na Grécia e que está a suceder agora em Portugal.’
‘(…) Eu não concordo com ele [Vítor Gaspar] precisamente porque acho que esses instrumentos não dão resultado. Esses modelos, que são utilizados também nas organizações internacionais, nomeadamente pelo Fundo Monetário Internacional, não têm em conta a realidade portuguesa em vários domínios, não têm em conta o alto endividamento das famílias, não têm em conta o facto de o emprego estar muito ligado à procura interna e, portanto, quedas da procura interna fazem aumentar muito o desemprego. Por isso, não admira que o governo e o FMI e a troika em geral tenham ficado surpreendidos com o aumento do desemprego e com a profundidade da recessão.’
‘O Estado faz hoje, em Portugal, o mesmo, e às vezes até menos, do que faz a generalidade dos Estados na União Europeia. Os Estados da UE têm as funções de soberania, a segurança, a justiça, os negócios estrangeiros, etc. Depois têm as funções sociais, educação e saúde. Não gastamos mais, nem por sombras, do que se gasta por essa Europa fora. Pode-se, evidentemente, melhorar a eficiência e reduzir as despesas para obter o mesmo resultado, mas não creio que isso sejam quatro mil milhões de euros. Creio, sim, que isso é um absurdo e é preciso ver como é que surgem esses quatro mil milhões de euros. Penso que aí o Partido Socialista tem razão: isto resulta em grande parte da estratégia seguida de provocar uma grande recessão. É evidente que quando se provoca uma grande recessão, obviamente, depois as coisas não chegam - cobra-se menos impostos, o défice mantém-se, é preciso cortar mais despesa, depois ainda vai agravar mais a recessão, e por aí fora. Ouvi que já estariam três mil e quinhentos milhões de euros destinados a ser cortados nas funções sociais, mas não nos esqueçamos de que a Segurança Social estava equilibrada. Só se desequilibrou este ano devido justamente à recessão. Esta estratégia não tem futuro nenhum. Se estamos agora a cortar quatro mil milhões, daqui a dois anos estamos a cortar seis mil milhões. Isto vai ser uma bola de neve que nunca mais acabará. Não faz sentido.’
‘Hoje, o problema salarial não é importante do ponto de vista da competitividade. A nossa perda de competitividade teve que ver com o facto de investir em sectores protegidos da concorrência externa, ser mais rentável do que estar a investir em sectores que têm concorrência externa, os chamados bens transacionáveis. A nossa competitividade não tem que ver com salários, tem que ver com o facto de a nossa estrutura produtiva estar desequilibrada. Se eu descer os salários, desço para todos os sectores, não só para aqueles que é preciso desenvolver. A questão salarial é um mito que não vai resolver em nada a questão da competitividade.’
‘Não sou sequer militante do PS, portanto, o PS fará o que quiser. Agora, se o PS disser que não aceita [colaborar na "refundação"], dou-lhe 100% razão. Por dois motivos. Em primeiro lugar, porque não faz sentido; colaborar nisto seria dizer que concorda com a estratégia que foi seguida e, a meu ver, isso é errado. Em segundo, se as coisas já estão decididas, o que é que o PS vai lá fazer? O PS fará o que entender, mas percebe-se se disser que não. É um convite envenenado, como é evidente. E aceitar como bom que é preciso cortar quatro mil milhões de euros não é nada líquido. É resultado desta estratégia recessiva.’
ONDE É QUE EU JÁ VI ISTO ?
ResponderEliminarUna España de peineta y mantilla
Ya son muchos los que se van; algunos, extranjeros, y también, otra vez, españoles. No obstante, ahora es distinto que en los años cincuenta, sesenta y setenta; entonces, la mayoría de ellos eran trabajadores manuales que, con muchos sacrificios, dejaban su país y sus familias para buscarse un trabajo que aquí no encontraban y, por cierto, muchos de ellos sin contrato alguno, al albur, por la llamada de algún conocido que ya trabajaba en Alemania, Suiza o Francia. Lo mismo que ha ocurrido con los sudamericanos, centroeuropeos y magrebíes que vinieron a España y que han sido maltratados en el trabajo, por los desahucios, la exclusión de la sanidad y los prejuicios de muchos ciudadanos nativos, algunos de los cuales habrá sido emigrante o hijo de emigrantes españoles. Volvemos pues, 50 años atrás: los “nuestros” marchan a buscar un empleo digno que aquí no encuentran; o, si lo encuentran, está mal pagado y mal considerado. Y muchos de ellos son universitarios, licenciados y doctores, cuya formación ha costado mucho dinero público y ahora derrochamos obligándoles a emigrar.
Es triste, pero cierto: son españoles que no querrán volver a su país porque están hartos de tanta arbitrariedad e incompetencia de los que nos gobiernan. Hartos, también, de la corrupción apenas castigada, del nepotismo de las clases dirigentes, de pagar impuestos que no pagan quienes tienen salarios inimaginables para ellos, de soportar sobre sus hombros la carga de una crisis que ellos no han causado, de empresarios turbios que esconden su dinero en paraísos fiscales, de tanta sentencia judicial incomprensible, de tanto neoliberalismo, de tanta intransigencia ultracatólica y, en fin, de una España que ha vuelto a la pandereta, la peineta y la mantilla.— Ángel Villegas.
ResponderEliminarConcordo com ambos-Prof.Ferreira do Amaral e com o texto de Angel Villegas- são faces da mesma moeda.