sábado, novembro 24, 2012

‘"Miúdos", "garotos", como o povo manifestante bem intui’

José Pacheco Pereira, Os intelectuais e a "anulação do destino" [hoje no Público]:
    ‘Daí as mentiras e a petulância. Um secretário de Estado resumiu essa mentira entranhada quando afirmou no Parlamento que os portugueses deviam estar felizes porque iam ter a devolução de um dos subsídios tirados, porque o Governo cumpria, presume-se com alegria, a decisão do Tribunal Constitucional. Aliás, ele apenas se excitou canhestramente com uma das muitas mentiras circulantes cujo melhor exemplo é o Orçamento do Estado e as sucessivas avaliações positivas da troika, peças de uma política cujos perigos dois ou três dias depois vem o FMI enunciar. A verdadeira avaliação da troika é essa, repete o que toda a gente está a dizer do Orçamento, antecipa o que vai acontecer, mas "Tout va bien Madame la Marquise".

    (…)

    Na verdade, os portugueses também já "ajustaram" os governantes. "Miúdos", "garotos", como o povo manifestante bem intui, percebendo a sua inexperiência da "vida", saídos da pior escola, carreiristas e espertos, obcecados pela "imagem" mediática, conhecedores de mil e um truques, tão vingativos como ignorantes, deslumbrados pelo seu poder actual, subservientes face a todos os poderosos, e que incorporaram um profetismo grandioso sobre "refundar" o país, que rapidamente se torna numa luta pela própria sobrevivência política, custe o que custar. O resto é expendable, no inglês técnico de que gostam.

    Pode ser que, mais uma vez, os intelectuais traiam, com a obsessão de respeitabilidade, o respeitinho moderado e o sufoco dos bens escassos para distribuir. Mas a obrigação do intelectual, como escreveu Emerson, é "anular o destino", pensar para haver "liberdade". Presos neste miserável destino, o sofrimento de muitos é uma efectiva ameaça à liberdade.’

2 comentários :

  1. Ainda vamos ouvir este artista dizer: "Volta, Sócrates! Estás perdoado!"

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  2. Diz ele que a obrigação do intelectual é como, segundo Emerson, "anular o destino", pensar para haver liberdade.
    É tão bonito, quando se está à rasca com o brutal peso intelectual a martelar a consciência, fazer proclamações de deveres de pensar a liberdade e o destino.
    Porque razão, este intelectual só agora lhe deu pensar na liberdade e destino dos portugueses?
    Ainda há pouco ele e o seu amigo VGM e outros se esforçavam, com quanta força intelectual possuiam, para nos levar ao destino que temos.
    O paspalhão Viegas também já anda, outra vez na tv, a tentar limpar-se do enorme (à gaspar)contributo que deu para o nosso actual destino.
    Eles, estes intelectuais oportunistas que apoiaram sempre políticos incompetentes para serem reis com um olho no meio de cegos, estão fazendo marcha-arré outra vez oportunistamente para se safarem a tempo da derrocada.
    O Pacheco atira-se aos actuais jotinhas e garotagem que pulula no PSD. Mas que visão intelectual tinha o Pacheco quando era político no activo e os que o rodeavam e apoiavam eram tão maus ou piores que os actuais?
    O Pacheco ainda não diz que, face à actualidade política, melhor seria chamar Sócrates. Não diz mas, mas por contraponto ao que diz, fácil é concluir que afinal muito melhor seria estarmos com Sócrates que com esta canora estarolagem.
    Claro que, tenta sempre igualar ou, à maneira do BE ou PCP, de juntar Sócrates aos estarolas pelo uso de "o mesmo".
    Ele bem tenta salvar a face, mas quanto mais fala contra os estarolas mais depressa destapa a diferença entre o saber e a estupidez.
    Ele sim, foi sempre um medíocre político e um intelectual desonesto que contribuiu enormemente para nos marcar o destino a caminho de miséria económica e liberdade. Basta recordar a sua conduta como deputado sobre os casos Freeport e do pobre-diabo sucateiro: uma autentica miséria moral e intelectual.
    O que o Pacheco precisa é de rever, calma e serenamente, todos os debates televisivos com Sócrates para as últimas eleições. Se o fizer com a razão e pensar honesto, não será preciso que Sócrates volte a explicar-lhe de novo, e agora ainda mais claramente, como Mestre de filosofia.

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