sábado, dezembro 22, 2012
A crise é uma oportunidade
(e a troika o pé-de-cabra para desmantelar o regime democrático)
Pedro Silva Pereira mostrava ontem no Diário Económico as diferenças abissais entre os constrangimentos impostos pela troika aos “ajustamentos” de Portugal e da Irlanda — ambos, como se sabe, “países de programa”. As diferenças sobre a forma como são tratados os dois países vai ao ponto de o FMI se ter comprometido com o governo irlandês a adiar “qualquer consolidação orçamental adicional” para 2015 se “o crescimento económico for decepcionante” em 2013.
Hoje mesmo, o diário El País (aqui e aqui) adianta que a Comissão Europeia já terá decidido conceder um alargamento do prazo para a redução do défice orçamental à Espanha, à França e à Holanda.
Voltemos ao caso português. Em Setembro, Vítor Gaspar anunciou, no âmbito da 5.ª avaliação do programa de “ajustamento”, uma renegociação das metas para o défice orçamental dos próximos anos: 4,5% em 2013 e 2,5% em 2014. Essa renegociação não resultou da necessidade de aliviar a austeridade para promover o crescimento económico, mas de adaptar as metas à colossal derrapagem da execução orçamental em 2012, na qual o Governo aplicou a política de “ir além da troika”, tendo derretido 9 mil milhões de euros¹ para provavelmente nem sequer conseguir reduzir o défice em um ponto percentual (mesmo contando com o artifício contabilístico da concessão da ANA). E tanto assim é que o OE-2013 agrava substancialmente a dose de austeridade através de um “enorme aumento de impostos”.
Pergunta-se: por que razão o governo português não segue o exemplo dos governos da Irlanda, da Espanha, da França e da Holanda — procurando alargar o prazo estabelecido para a redução do défice para atenuar a brutalidade da austeridade?
Só se vê uma explicação para esta aparente incongruência: o Governo de Passos, Gaspar, Relvas & Portas está empenhado em aproveitar a crise para subverter o país criado após o 25 de Abril. Como disse Passos Coelho, mas apenas depois de se ter alçado a São Bento: “nós sabemos que só vamos sair desta situação empobrecendo - em termos relativos, em termos absolutos até, na medida em que o nosso Produto Interno Bruto (PIB) está a cair”.
Para isso, o Governo está a fazer implodir os entraves à desvalorização salarial e à criação de um Estado (Social) mínimo — ao mesmo tempo que se lambuza no pote e prepara o terreno para cercear a liberdade de expressão. É neste contexto que a troika funciona como pé-de-cabra para desmantelar o regime democrático.
Pode este governo continuar a ser olhado como um governo um pouco mais à direita, mas ainda assim respeitador da Constituição da República?
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¹ Quando o “Programa de Assistência Económica e Financeira” exigia medidas de consolidação orçamental no valor de 5.073 milhões de euros, o Governo decidiu agravar a austeridade, elevando-a para 9.042,3 milhões (Relatório do OE-2012, p. 22, na versão em papel, ou p. 30, na versão on-line).
Demissão já já já!
ResponderEliminarNão se aguenta mais tanta incompetencia, oportunismo, tiques dictatoriais e estupidez em estado puro.
Por amor do pai, alguém que tome a rédea ao poder e ponha esta gentalha toda que se alçou ao pote na prisão!
Ninguém me tira da cabeça que a invenção gaspariana da designação "países de programa" foi uma ofensa propositada que o fará gargalhar na intimidade do círculo restrito de sacanas que o têm como sofisticadíssimo humorista. “Países sujeitos a programas de ajustamento” ou “países com programas de ajustamento” toda a gente percebe, mas “países de programa” é fórmula que nunca ouvi a ninguém, ofensa deliberada e cobardemente camuflada própria de chico-esperto que pensa enganar toda a gente. É coisa só possível num cretino sem pátria e sem vergonha, um desses gatos gordos com alma de cipaios cuja vidinha é esfregar-se nas pernas dos donos ronronando docemente e espojando-se nas alcatifas fofinhas dos belos gabinetes que eles lhes oferecem em troca da sua mercenária missão, que é esgatanhar-nos o mais que podem.
ResponderEliminarConsigo imaginá-lo a rebolar-se de gozo, agarrado à barriga, lágrimas nos olhos de tanto rir: "Chamei putas a esta gente toda, a pois países inteirinhos, com o ar mais sério deste mundo, e os idiotas nem deram por nada. É por isso que merecem tudo o que lhes está a acontecer, só se perdem as que caem no chão!"
Caiu-me o queixo quando ouvi o descaro e quase atirei uma cadeira à televisão, mas, até agora, as únicas referências que vi à piadola foram esta vossa e a do Pacheco Pereira na “Quadratura do Círculo”. Estranho acriticismo, ainda não temos dengue mas parece-me que a mosca tsé-tsé já se instalou. Merda para o aquecimento global!
A quadrilha.
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ResponderEliminarPSP um dos responsáveis do estado em que Portugal está. Este fulano e a canalha socrática já deveria ter sido responsabilizada pelos actos criminosos que cometeram. Prisão à canalha que destruiu o país entre 2005 a 2011.
Em especial para o anónimo das 05,45
ResponderEliminarAntes de falar/escrever deves informar-te e ler os dados de evolução do PIB, do desemprego, do défice, etc.
Deves também separar o mandato de Sócrates em 2 períodos, o primeiro até 2008 (inicio da crise global), o segundo no pós 2008.
Depois analisar tudo isto e se conseguires por de lado o ódio que tens a Sócrates, estarás em condições de poder opinar.
Enquanto não tiveres capacidade para o fazer, nunca conseguirás ter uma opinião séria e honesta, continuando a falar mal de tudo e todos.
Pior do que ser cego é não querer ver! Pior ainda é ser burro e fazer alarde da burrice
Passa bem
RS
Ao anónimo das 6:31 de 26 Dez: você pode ter razão na questão de que o ódio é mau conselheiro para emitir opiniões; mas olhe que o proselitismo (no caso, "socrático") não é melhor. O Sócrates e antes dele o Durão Barroso e o Santana Lopes prepararam o terreno, com os sucessivos aumentos da idade de reforma,cortes na função pública, etc. contribuindo para que o banditismo anti-social possa singrar com este descaro todo. Não ver isto de modo claro faz-me espécie e acho que enquanto o pessoal (do qual só gostaria de excluir o exército de parasitas que "engordam" à custa da miséria troikiana) enquanto toda a gente não acordar para estes factos simples, é difícil entendermo-nos, e "acordar a malta" como tanto queria o saudoso Zeca Afonso.
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