• Pedro Santos Guerreiro, O canal do Panamá:
- ‘A operação [privatização da RTP] é antes de mais uma guerra política. Borges, Passos e Relvas apoiam a privatização; Portas, Seguro e Cavaco são contra ela. Para avançar, o modelo terá de satisfazer as ânsias dos primeiros e salvaguardar as ansiedades dos segundos. Mais: tem de ser um bom negócio para privados, ou a venda ficará deserta. E por muito chocante que isso seja, a única forma de atrair privados é a RTP continuar a ser financiada pelo Estado ou pela taxa de audiovisual. O difícil equilíbrio de todas estas forças justifica o cepticismo do primeiro parágrafo: a RTP é politicamente impossível de privatizar. Dificilmente o será agora.
Miguel Relvas prometeu levar a privatização a Conselho de Ministros até ao final do ano. Nos próximos dez dias, portanto, saberemos se é venda ou concessão, total ou parcial, que financiamento público haverá, quantos dos seis canais de TV e três de rádio se quer manter e com quantos minutos de publicidade.
Há coisas que sabemos que estão certas: que o serviço público tem de manter-se e ser pago pelo Estado; que o Estado tem de pagar menos do que paga hoje; que os riscos têm de ser transferidos para o privado; que a empresa tem de ser despolitizada, para evitar intervenções editoriais ou saneamentos como o que se assiste agora à anterior direcção de informação, que, culpada ou inocente, merecia um julgamento justo num processo disciplinar, mas partiu condenada num processo politizado.
Há coisas que sabemos que estão erradas. E Proença de Carvalho apontou ontem uma: a Nèwshold, única empresa que declarou o interesse, não poderá ganhar a privatização. Porque o que não se sabe dela é indispensável saber. E porque o que dela se sabe era dispensável ser verdade.
Faz hoje uma semana, a Nèwshold emitiu um comunicado ridículo, vitimizando-se de um ataque xenófobo dos jornalistas por causa de Angola. E remeteu a identificação dos seus accionistas para a CMVM. A CMVM, bem, devolveu: a Nèwshold que revele de quem é. Os dias vão passando e, inacreditavelmente, nada é revelado. Sabe-se no entanto que é uma empresa com sede no Panamá. E, segundo o Público, que os seus administradores ocupam cargos iguais em milhares de empresas desse país.
Basta ver a forma como a fusão entre a Zon e a Sonaecom ou o investimento da Sonangol no BCP são analisados nos media para perceber que não há xenofobia. Mas há perguntas legítimas sobre a origem e a transparência. Não é Angola que dá mau nome à Newshold, é a Newshold que dá mau nome a Angola. Pela opacidade. E porque a empresa já mostrou como encara os media.
Do que se lê no comunicado, depreende-se que a família Madaleno, incluindo Álvaro Sobrinho, é accionista da empresa. Serão eles os accionistas dos angolanos "Novo Jornal" e "Agora". Como Celso Filipe escreveu, ambos têm adoptado linhas editoriais inaceitáveis num país que preza a liberdade e a responsabilidade de imprensa.
Esta opinião é pessoal e só responsabiliza o seu autor, num assunto que é delicado: a Cofina, proprietária do Negócios e dada como interessada na RTP, é controlada pelo núcleo duro que a gere desde sempre e detém 53% da empresa. A Nèwshold é também accionista da Cofina, com cerca de 15% comprados no último ano em Bolsa. Estou, portanto, a criticar um accionista, que não intervém na gestão da Cofina e que eu também desconheço de quem é. O pensamento, no entanto, não tem percentagens. E o meu pensamento é este: a Newshold, como a (des)conhecemos, não pode controlar a RTP. Se um dia controlar a Cofina, o meu destino está traçado. Traçado por mim: obviamente, demito-me.’
hum... isto vai ser giro ver o que vai acontecer a seguir.
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