segunda-feira, dezembro 03, 2012

O PCP e a convergência táctica com a direita

Augusto Santos Silva no Facebook:
    Lá segui com atenção o congresso do PCP:
      1. O filme sobre Cunhal recordou mais uma vez, e bem, o contributo decisivo do PCP para o combate à ditadura e, portanto, para a vitória da democracia. O outro lado da história é que, para a vitória da democracia, também foi preciso derrotar o PCP, em 1975 (e também antes e também depois).
      2. Basta olhar para as pessoas que estão neste congresso para perceber que o PCP representa social e politicamente grupos e setores sociais que mais ninguém representa. E é uma força essencial para a organização do trabalho e dos trabalhadores. O outro lado da história é que, se a linha de confrontação sindical advogada pelo PCP triunfasse, derrotando a concertação social, não teríamos podido construir o Estado social que erguemos a seguir ao 25 de abril: cada etapa nessa construção começou sempre por ter a oposição do PCP, que queria ir mais longe e achava que ela era uma rendição ou traição reformista.
      3. A realidade é feita sempre de vários lados, e por isso mesmo o PCP é parte integrante da sociedade e da república portuguesa. Compreendo bem os seus contributos, respeito os seus pontos de vista e procuro ter com eles um debate aberto.
      4. Mas já não consigo compreender como é que o PCP não percebe quão útil é à direita a sua obsessão com o ataque permanente ao PS. Chega a ser caricata a sanha da direção comunista com o mesmíssimo Passos Coelho que ajudaram a pôr no governo, com plena consciência do que estava a fazer.
      5. E ainda menos percebo como é que o PCP pode continuar a colocar a China no conjunto das forças anticapitalistas. Ó meus amigos, olhem para a China: aquela combinação de ditadura, negação dos mais básicos direitos dos trabalhadores, proibição do sindicalismo e exploração sem freio, é tudo aquilo que o capitalismo sempre quis - e que a luta do movimento operário e dos democratas até agora lhe negou, no Ocidente!

10 comentários :

  1. 'Ó meus amigos, olhem para a China' é muito bom...

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  2. O PS não percebe que, nele mesmo, e como aliás muitos de seus militantes afirmam, a diferença entre esquerda e direita já não faz sentido. Quando uma diferença é posta como tendo deixado de fazer sentido o que ocorre conjuntamente é que ela desaparece como questionamento da própria situação - ou seja, é mais uma coisa que se permite que a situação devore.

    A luta do PCP não é contra o PS mas pela preservação de uma diferença política entre a esquerda e a situação actual.

    O PS é um partido que vive todo ele da e na situação situação, da gestão de seus processos, quer na oposição quer no governo e cuja consequência é o reafirmar e reproduzir contínuo da própria situação.

    Portanto, a questão é oposta. O PS é que é o aliado estratégico da direita e que se diga ao mesmo tempo socialista só pode ter como consequência o próprio desaparecimento do socialismo.

    Não vale a pena vir hipocritamente criticar a China quando ao mesmo tempo se faz negócios com ela - não esqueçamos os pedidos de financiamento de Sócrates ao governo chinês.

    O PC chinês é complexo, hoje podem estar a dominar as correntes capitalistas mas amanhã poderão a vir a dominar correntes socialistas.

    João.

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  3. No XVIII Congresso do PC Chinês foram aprovadas medidas no sentido de facilitar a concessão de benefícios sociais de saúde a cerca de 500.000.000 de camponeses idosos, tipo seguro de saúde.

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  4. Em resposta a uma duvida:
    Por acaso alguém compreende o comunismo do PCP, com a realidade atual? Quando continuam a ignora-la? Continuando a fazer fervorosos apelos ao retrocesso civilizacional, quando utilizam argumentação do seculo passado para resolver os problemas atuais e futuros? O PCP está a hibernar desde sempre. A aposta do PCP em combater o PS, aliando-se à direita, tem dois objetivos, 1º. correr com o partido da esquerda que tem politicas sociais e de crescimento, que conduz à sua diminuição eleitoral como é obvio; 2º.colocar a direita no poder, sabe que esta vai reduzir politicas sociais, criar desemprego, mais miséria, é neste quadro o PCP pensa poder ter crescimento eleitoral, as bactérias crescem com "lixo". Alias o comunismo só cresce em situações de subdesenvolvimento e de exploração, nas sociedades onde existe progresso e respeito social o comunismo é uma autentica seita.

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  5. Ninguém criticou hipócritamente a china, criticou-se a hipócrisia do PCP ao considerar a china como tendo um governo comunista quando na realidade não é o comunismo que lá impera mas o capitalismo selvagem de mão pesada.
    E para ser sincero, moralismos vindos de hipócritas, o PS dispensa.
    Já agora, nos governos de Socrates implementaram-se beneficios para os idosos também ( complemento solidário para o idoso) por isso calculo que o PS seja também comunista, não?
    Tenham juizo e desçam á terra, não precisamos de comunistas nem socialistas, precisamos é de gente inteligente, integra e com vontade de mudar o rumo ao país, e esses existem em todos os lados das barricadas.
    Entendam-se e trabalhem para o povo, raios!

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  6. O pcp é um partido que perdeu a oportunidade, não quer perceber que o mundo mudou e que entretanto passaram 100 anos. Tenho o maior respeito pelos comunistas do passado, que durante muito tempo deram tudo o que podiam por uma ilusão em que acreditavam e que hoje sabemos realmente o que era. Mas os comunistas de hoje, que não são burros, sabem bem o que fazem e preferem um governo de direita que lhes permita fazer a única coisa que querem - contestar. Quanto pior for a realidade, mais eles contestam e mais parecem necessários, mas as sondagens revelam que não passam do mesmo. Querem mudar de governo, mas apenas para derrubar novamente o ps, que parece ser o inimigo principal. Não apresentam qualquer proposta que se coadune com a atualidade, parece que acham possível e desejável que portugal volte a estar orgulhosamente só. São os únicos democratas, tudo o resto é direita. No anterior governo, recusaram a proposta de poder votar em qq ponto do país só com o bi ou cc, nem se sabe porquê. Também contestaram a aproximação ao valor real do desconto mensal para efeitos de irs, que iria no final dar uma devolução menor do imposto retido porque "as pessoas já estavam habituadas a ter aquele mealheiro quando voltavam de férias". Enfim, desde que viesse do governo, estava mal. Quem acredita num partido destes? Só os próprios, mais os filhos e netos.

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  7. Juízo é coisa que não falta a esta gente sábia que ataca o Comunismo em geral esquecendo que hoje o capitalismo está completamente falido e as únicas excepções são a Alemanha, a França, A Espanha e o Japão e mesmo estas economias estão debaixo de fogo.

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  8. "O Part. Comun. chinês é complexo", diz o sô João, mas nada que se compare com o emaranhado que vai na cabecita dele...


    Há que reconhecer o óbvio: o PCP, para além de transportar uma certa memória da luta honesta contra a Ditadura, já nada representa ou significa política e ideológicamente no Portugal atual.


    O PCP de hoje já nem sequer é comparável ao de Álvaro Cunhal, que ainda teve a LUCIDEZ e a CORAGEM de, apesar de tudo o que os separava, apelar ao voto dos Comunistas em Mário Soares contra Freitas do Amaral, como já apelara ao voto em Eanes contra Soares Carneiro.


    Situações pretéritas de eminente perigo para a Democracia e as conquistas de Abril, sem qualquer dúvida, mas que hoje até nos parecem (embora talvez injustamente) menosprezáveis quando comparadas com a ofensiva atual do capitalismo financeiro e selvagem a essas mesmas conquistas de Abril, já não apenas as sociais e económicas, mas até as políticas!


    E eu gostava de ver Cunhal no dia 23 de Março de 2011 na Assembleia da República a ser enrabado de fininho, ao lado dos tolinhos do BE, por parte da Direita mais reaccionária, mais revanchista, mais trauliteira, mais insensível e até mais colonialista que já se viu agir em Portugal desde o 28 de Setembro de 74: porque tenho a firme convicção de que, com Cunhal à frente da bancada comunista, o PCP não teria dado aquele triste espetáculo de indigência e de divisionismo na Esquerda perante uma tal ofensiva e, pelo contrário, teria seguramente encontrado uma narrativa sábia e eficaz contra essa Direita infame que, mesmo sem prescindir do seu argumentário crítico relativamente a (algumas?) políticas dos Governos de José Sócrates (e porventura sem conseguir impedir a sua queda), tivesse ao menos preservado a HONRA do PCP e salvaguardado com clareza que o clamor comunista anti-PS nunca, mas nunca, poderia ser confundido com a peçonha dos argumentos da Direita.


    Essa ressonância de estilo, de liguagem e, no fundo, de argumentação entre a Direita e a Esquerda parlamentar virada contra o PS é mais fatal, para o desenvolvimento de uma consciência política na Esquerda neste momento de defensiva, do que toda a eloquência balofa com que agora se ataca a "troika" e a "guvernação" calamitosa do PSD e do CDS.


    Volta, Cunhal, e dá mais algumas lições aos teus órfãos, que eles andam completamente desnorteados com isto tudo...



    Sem esquecer igualmente que, passados todos estes anos de acomodação ao parlamentarismo e de esquecimento da original postura revolucionária do Partido, o PCP se tornou mais um grupo de interesses "burgueses", como outro qualquer, que age apenas em função deles...

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  9. Blá Blá Blá em Cuba hoje foi assim

    LA HABANA.— El General de Ejército Geraldo Sachipengo Nunda, jefe del Estado Mayor General de las Fuerzas Armadas de la República de Angola, rindió homenaje ayer, en esta capital, a los caídos por la independencia de Cuba y de naciones africanas.

    O movimento Comunista passa por cima dos românticos e caminha inexoravelmente em direcção ao fim.

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  10. E é sabido, até pelos Monges de Chau-Lin, que "o fim de uma coisa é sempre o princípio de outra"...

    (David Carradine, em «KUNG FU»)

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