terça-feira, agosto 06, 2013

A palavra aos leitores

Extracto de e-mail enviado pela leitora Maria Fernanda L., que vive no Canadá:
    (…) Neste dia, há 47 anos, eu já lavrava as leiras do jornalismo e pude ver a inauguração da Ponte sobre o Tejo, que nunca devia ter tido outro nome senão esse. Coisa grandiosa na pacatez macambúzia da Lisboa daquele tempo, com repórteres estrangeiros a tirar fotografias, os embaixadores acreditados na capital faiscantes nas suas fardas de gala, as tropas em parada, Salazar e os ministros de fraque, como uma nuvem negra, e eis senão quando chegou o presidente Américo Tomaz com um séquito de oficiais da Marinha, todos de branco como lírios. O jornalista Renato Boaventura, duma agência noticiosa estrangeira, tocou-me no braço e rosnou baixinho: “Chegou a Branca de Neve e os Sacanões”. Era o que pensávamos e sussurrávamos, não fosse a pide ouvir. Em boa verdade, nenhum deles prometeu liberdade, democracia e respeito pelo povo em nenhum momento. Dali a pouco tempo o Renato morria à beira de uma piscina, em Espanha, traído pelo seu grande coração. Hoje, 47 anos depois, dou graças pelo facto de o Renato não ter visto, ouvido e passado o que todos nós sabemos.

    No dia de hoje, dizem-me os jornais que as pensões de reforma dos servidores do estado vão levar cortes brutais; que há doentes na oncologia a quem foram cortados os medicamentos curativos e paliativos por falta de verba; há internados nos hospitais que não querem ter alta porque ali, ao menos, têm comida e cama limpa; há serviços de investigação científica que vão fechar, e os seus membros emigrarão, porque o estado precisa dessa verba para os boys e os carros oficiais dos boys; continuam a fechar empresas, continua alta a taxa de desemprego; Madame Lagarde do FMI diz ao presidente Hollande da França que não se preocupe com o défice e se empenhe no crescimento; mas o primeiro ministro Coelho e o vice primeiro ministro Portas não querem saber disso, estão de pedra e cal vergados diante da troika e da Merkel, enquanto Portugal vai agonizando. E dizem mais os jornais: o pai do primeiro e a mãe do vice estão de coração partido com o sacrifício dos seus rebentos, nada referindo acerca do que sofre o povo com estes meninos mal acabados. Verdade seja dita: o primeiro garantiu, logo à entrada, que era exímio em cantigas e em farófias. Ele bem avisou, nós é que não demos atenção. (…)

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