terça-feira, setembro 03, 2013

Fraudes convenientes

• João Galamba, Fraudes convenientes:
    ‘(…) a explicação da destruição de emprego não recai na alegada rigidez laboral, mas sim nas fortíssimas restrições à procura criadas pelas actuais políticas de austeridade.

    Podemos dizer que este Governo revela um padrão de comportamento: quando a realidade não se conforma à teoria, distorce-se a realidade. Tudo começou com o caso TSU, cujos os estudos técnicos que sustentariam a opção nunca foram divulgados. Depois tivemos o relatório do FMI sobre a ‘reforma do estado', que estava cheio de imprecisões, distorções e dados truncados. E agora este caso.

    Em todos eles, o Governo foi cúmplice, activo ou passivo, de sucessivas tentativas de implementar um conjunto de políticas cuja única justificação é a obsessão ideológica de responsabilizar os próprios trabalhadores e/ou o Estado pelos problemas da economia portuguesa. Que a estratégia escolhida por este Governo só possa ser sustentada recorrendo a fraudes diz muito sobre a razoabilidade das opções e sobre as motivações dos agentes políticos.

    O Governo pode tentar defender-se dizendo que está de boa-fé, que foi o FMI quem pediu esses dados, que se limita a cumprir metodologias seguidas por todas as instituições internacionais - mas, uma coisa é certa: sem estas fraudes, seria muito mais difícil, para não dizer impossível, continuar a defender as políticas de austeridade, a agenda de desregulação do mercado de trabalho e o empobrecimento generalizado dos trabalhadores portugueses como constituindo soluções para o problema português. Sem esta capa legitimadora, tornar-se-ia (ainda) mais evidente que a estratégia não só não está a resultar, como não tem como resultar.

    A cumplicidade do Governo com tudo isto é preocupante, porque mostra que, mais do que defender Portugal, a maioria PSD-CDS está mesmo empenhada em usar esta crise como pretexto para sujeitar os portugueses a uma experiência ideológica, cuja única fundamentação, como se vem tornando evidente, não é a realidade, mas o dogmatismo de quem, pura e simplesmente, não está disponível para encontrar uma alternativa.’

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