sábado, novembro 23, 2013

Crítica: A Confiança no Mundo [1]


A tese de mestrado de José Sócrates: a leitura de um católico — Paulo Otero [hoje no DN]:
    ‘1. A dissertação de mestrado de José Sócrates, subordinada à epígrafe A Confiança no Mundo - Sobre a Tortura em Democracia, agora publicada pela Verbo-Babel, é um livro surpreendente, a diversos títulos: a) revela erudição e profundidade, numa linguagem clara e acessível ao grande público; b) adota uma sistematização adequada e com equilíbrio de conteúdos, sem cair na tentação de recorrer a afirmações gratuitas; c) aborda um tema nuclear nas modernas democracias, à luz de uma metodologia que privilegia o tratamento axiológico dos temas; d) procura descer às raízes da essência da própria democracia, numa indagação que assume uma abrangência que ultrapassa em muito o tema da tortura.

    (…)

    10. Em qualquer cenário interpretativo, a riqueza das reflexões filosóficas, políticas e teológicas que a leitura do livro A Confiança no Mundo suscita permite fundar a esperança de tomar bem presente que nenhum Saulo se encontra excluído, em qualquer momento da sua vida, de iniciar o seu caminho pela estrada de Damasco.

    Tal como a verdadeira tragédia do caminho para Damasco reside no perigo de cada um, achando-se definitivamente Paulo, cair na cilada de retroceder a marcha e acabar por voltar a ser Saulo; igualmente, o drama que a discussão da tortura coloca, em pleno século XXI, e em Estados democráticos, consiste em ter-se a consciência de que o respeito pela dignidade humana e a garantia de uma democracia substancial nunca são conquistas irreversivelmente adquiridas - o livro de José Sócrates, a propósito da tortura, ilustra esse sobressalto permanente da modernidade.’

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