• Mário Soares, A última oportunidade:
- ‘O Governo continua paralisado. Não se entendem o primeiro-ministro e o vice, como é visível para quem tenha um mínimo de atenção. Mas têm consciência de que se um deles se demitisse, ou mesmo um simples ministro, fosse do PSD ou do CDS, o Governo cairia como um castelo de cartas...
Têm um objetivo comum: destruir o Estado social, o que tem vindo a ser feito pouco a pouco mas sistematicamente: não respeitar a Constituição da República, apesar de terem jurado cumpri-la, e o Presidente da República fazê-la cumprir como jurou também. O que infelizmente parece não ter até agora acontecido. O que é muitíssimo grave.
O País está num impasse, sem saída. Não há qualquer estratégia. Tudo está parado e a incerteza quanto ao futuro é enorme.
(…)
Esta proteção suspeita do Presidente da República ao Governo, que está há meses paralisado - e submisso à troika -, tem vindo a destruir o prestígio do Chefe do Estado e a torna-lo cúmplice - e responsável - do "descalabro do País" (na expressão de Manuela Ferreira Leite), que tem vindo a agravar-se dia a dia.
Na verdade, o Presidente da República está como os membros do Governo, não pode sair à rua, nem sequer passear, com medo de ser vaiado. Que tristeza! Para fugir às dificuldades, tem andado a viajar e quase não fala. Mas está a aproximar--se o momento em que, quer queira quer não, tem de falar e assumir as suas responsabilidades, dada a Constituição que jurou.
(…)
Se o Presidente Cavaco Silva continuar a só ver Passos Coelho, Paulo Portas e os seus assessores, ignorando o País real, mais cedo ou mais tarde irromperá subitamente a violência neste país. É inevitável! E o Presidente provavelmente não acabará o seu mandato. Quem o avisa, seu amigo é...’
Caro MS,
ResponderEliminarPode evitar-se a violência, penso. Bastava que alguém credível, o próprio MS apesar dos anos, ou alguém em quem confie e apoie, convidasse o povo a reunir na Alameda e descer a Av. Da Liberdade até S. Bento ou Belém ou outro local qualquer real e simbólico dos actuais poderes que desprezam os portugueses em detrimento dos mercados usurários obscuros.
O cagaço que se lhes intalaria na pele e no corpo seria tanto que provavelmente metiam o rabo entre as pernas e deixavam de vez o país entregue aos portugueses que amam Portugal.
Sem totalitarismo e com democratas sérios.
ResponderEliminarConcordo plenamente com o que diz José Neves...
ResponderEliminarInfelizmente, agora é demasiado tarde para Alamedas.
Os críticos do Poder atual estão irremediávelmente rancorosos, divididos e instalados em trincheiras fortificadíssimas uns CONTRA os outros, muito mais do que todos contra o Poder!
É impensável reunir hoje o Povo sério e honesto numa qualquer Alameda, porque metade desse Povo sério e honesto odeia e despreza os políticos por IGUAL, Sócrates como Passos Coelho, Seguro e Cavaco.
E a outra metade está inquinada por um facciosismo partidário ao nível mais "clubista" como nunca se viu em Portugal!
A própria noção mítica do Povo que desceu a Alameda com Mário Soares está claramente deturpada por José Neves: essa Alameda só foi possível, em 1975, porque Soares não se incomodou em ter a seu lado uma enorme quanitdade de fascistas e salazaristas reciclados!
Sem eles, a Alameda nunca teria sido o que foi...
Desengane-se o José Neves e desengane-se Mário Soares: o caldo de cultura cívica e política está pronto para a investida final da pior Direita oligárquica, revanchista, ex-colonislista, conservadora e populista.
Não precisamente na forma como investiu nos anos 30, descaradamente abusando da manipulação e da violência, mas numa nova fórmula (por enquanto) suave e persuasiva, apoiada num infindável arsenal de mentores e propagandistas da sua "verdade" universal.
E a resposta das forças da Civilização, tal como nesses negros anos 30, está demasiado confusa, dividida e timorata.
Lamento ter de concluir que, apenas perante a visualização concreta da nova BESTA se poderá formar uma nova consciência e uma nova configuração dos ideais da Paz, da Liberdade, do Progresso e da Justiça.
Sem essa manifestação clara da face atual dessa BESTA imortal, não serão as "palavras", mesmo que lim, que farão a "imagem": o fortalecer da Resistência e o acontecer a nova Libertação.
Desculpem:
ResponderEliminarsão "mil palvras", claro...
Sabedoria chinesa,
ResponderEliminarCaro, o mundo financeiro costuma dizer que basta o bater de asas en NY para provocar um terramoto no Oriente e vice versa.
Pois eu penso que igualmente que em estado de degradação social pode bastar um fósforo para incendiar uma sociedade. A BESTA já anda por aí e já nem se esconde muito.
Lembro ainda que na Alameda, que apreciei ao vivo, é verdade que sob o chapeu do PS estavam lá encolhidos e à rasca o PSD e o CDS, mas estavam sobretudo os democratas apoiantes da liberdade.
E lembro também que nem foi preciso descer a Av.da Liberdade ou sair do local. Em consequência quase imediatamente o governo gonçalvista-cunhalista caiu.
ResponderEliminarGosto do comentário da "Sabedoria chinesa".
Tudo o resto são paninhos quentes.
ResponderEliminarCaro José Neves,
concordo com o essencial, sim, mas gostaria de "voltar à carga" em dois aspetos para mim importantes para a compreensão do momento político atual:
1º) Não basta "um fósforo" para incendiar uma Sociedade enquanto essa Sociedade não estiver sintonizada ela mesma em termos morais! Repare que a revolta mais ou menos surda que se sente em Portugal e que já deu origem a duas manifestações pelo menos significativas, não teve ainda qualquer tipo de consequências políticas, penso eu, porque a EVIDÊNCIA MORAL não é a mesma para todos os que resistem, ou seja, ainda não existe aquilo a que eu chamaria uma CLARA POLARIZAÇÃO MORAL, que me parece indispensável para criar esse clima de "palha seca" em que baste um fósforo. E porquê? Porque se falar com uma amostra aleatória de pessoas dessas manifestações, AO CONTRÁRIO DO QUE SUCEDIA NA ALAMEDA (onde eu não estive apenas por não ter ainda idade - 15 -, mas que já acompanhei e debati, interessada e conscientemente, em casa, no meu Liceu, etc.), constatará que a sua visão da CULPA pela situação presente é tão díspar, tão por vezes antagónica, que NUNCA SE PORIAM DE ACORDO PARA QUALQUER TIPO DE AÇÃO CONCRETA - e é apenas isso que mete medo ao Poder e que, como bem diz, fez em 75 caír Vasco Gonçalves (embora não "quase imediatamente", lembre-se lá bem, porquanto a manif foi na Primavera, por alturas da crise do jornal «República», e Vasco Gonçalves só caíu, meses mais tarde, já no Outono, após uma reunião deliberativa dos chefes militares do MFA e, no entretanto, decorreu todo o recheado período do "Verão Quente", em que o homogéneo V Governo Provisório, gonçalvista-cunhalista, ainda foi mais radical do que o IV, que estava em funções no tempo da manif...);
2º) a BESTA anda de facto já à solta e nem se esconde muito, mas falta-lhe ainda acrescentar quele que considero o elemento decisivo: a HUMILHAÇÃO. Só quando sentir na pele a humilhação, de uma forma inequívoca e bem explícita, o Povo sairá do seu atual torpor. O problema é que, quanto mais tarde isto acontecer, mais seca estará a palha...
Cumprimentos,
Ant.º das Neves Castanho.
ResponderEliminarE para finalizar, há uma diferença muito grande entre a narrativa dos democratas apoiantes da Liberdade, que foi dominante na Alameda graças a Mário Soares, ao seu génio político como à sua grande coragem, e a sensibilidade de uma grande percentagem de participantes nessa manif, que de facto eram do CDS e do PSD - que nesse tempo, porém, pouco mais eram do que as tábuas onde se acoitavam os náufragos envergonhados do salazarismo e do marcellismo -, mas que NÃO DISPUNHAM AINDA DE UMA NARRATIVA CREDÍVEL e tiveram de, apenas tácticamente (como mais tarde se constatou), aceitar essa narrativa dos democratas apoiantes da Liberdade para poderem "sobreviver".
Algo que, como decerto concordarão, não existe atualmente na Esquerda, onde não é possível encontrar uma narrativa mobilizadora que inclua claramente a noção das CAUSAS DA CRISE e as SOLUÇÕES VIÁVEIS para a ultrapassar, que consiga congregar as várias sensibilidades políticas e ideológicas dos que resistem, estóicamente, mas um pouco como os lanceiros polacos contra os "Panzer" alemães.
Para mudar o curso dos acontecimentos, precisamos agora uma espécie de Churchill, ou de Tito, que transformou um bando de desesperados e maltrapilhos numa força bélica organizada e temível, que fez frente e, no final, afugentou a BESTA que foi a "Wehrmacht" nos Balcãs.
Sem um "Tito", nunca chegaremos a "Belgrado", quanto mais a algum "Brandeburgo"...
Mas onde encontrar esse "Tito", que tanta falta nos faz?