- João de Deus Pinheiro atira responsabilidades para um embaixador ou um diretor-geral, pois não se lembra de tal medida com a qual diz discordar e que não "orgulha" o país.
Cavaco Silva: “Penso que o nosso embaixador seguiu aquilo que era a prática portuguesa”.
O Embaixador Francisco Seixas da Costa esclarece:
- ‘Está a tornar-se um pouco bizarra a coreografia desculpabilizante a que se está a assistir nas últimas horas, a propósito do caso do voto na ONU, em 1987. É um espetáculo triste virem à baila nomes de funcionários diplomáticos que intervieram nesse processo, como se, pela confusão, se conseguisse salvar, não a "honra do convento" de Nossa Senhora das Necessidades, mas a imagem dos verdadeiros responsáveis pelo sentido do voto - independentemente de qualquer juízo sobre a importância objetiva desse mesmo voto.
Os diplomatas obedecem a uma cadeia hierárquica, executam uma política externa que lhes é determinada por quem tem legitimidade política para o fazer e que, em derradeira instância, deve responder pelas suas decisões. Os diplomatas aconselham mas não "produzem" política externa.
Quem conhece como estas coisas funcionam sabe que o diplomata que intervém numa comissão de um órgão multilateral como é a ONU atua sob uma instrução recebida do seu embaixador, ao qual, por sua vez, chegaram orientações oriundas da direção política, em Lisboa. Muitas vezes as instruções são genéricas, outras vezes são detalhadas, em alguns casos mesmo num "micro-management" irritante. Na frente lisboeta da decisão - que, dada a sensibilidade política do tema em causa, deve ter sido ponderada ao milímetro, porque ninguém fica "isolado" com os EUA e o Reino Unido sem ser como resultado de uma opção política muito refletida - fazem parte o diretor-geral político económico (era assim que se chamava, à época), o ministro dos Negócios Estrangeiros e, naturalmente, o primeiro-ministro de então. Não me passa pela cabeça que qualquer destas três figuras possa ser tentada agora a fugir às suas responsabilidades. E, repito, não é para aqui chamado qualquer juízo de valor sobre a temática, em si mesma. Essa é outra questão.
Porque é que tenho estas certezas - e não outras - sobre este assunto? Fui embaixador na ONU, na OSCE e na UNESCO e, noutro quadro de responsabilidades, passei anos a dar instruções a representações portuguesas junto da União Europeia, da OCDE, do Conselho da Europa e da OMC. Sei, por isso, do que falo, mas, repito, apenas no tocante ao "processo decisório".’
Os porcos e os seus jornaleiros terão aquilo que merecem na altura própria.
ResponderEliminareste embaixador é um grande malabarista, em poste anterior desvalorizava o com o alinhamento aos ingleses e americanos, agora saltou para a defesa da corporação diplomática colaboracionista, mas quanto às responsabilidades políticas dos gajos que ainda lhe dão croquetes e cu tremido a troco destes fretes, fica caladinho.
ResponderEliminarNão tenho particular simpatia pelo Seixas da Costa, mas não vejo qualquer incoerencia no que disse. No seu blogue ele tem sido de uma frontalidade às vezes brutal. Não é fugura do mru agrado pessoal, mas tem-nos no sítio.
ResponderEliminar[Um comentário prévio, entre parêntesis, para o i.: algo de idiossicrático existe contra o visado, ou uma confusão momentânea.]
ResponderEliminarO que deveria ser valorizado é o facto do embaixador Francisco Seixas da Costa e, hoje, o João Gomes Cravinho (gente das Necessidades, o último com um curriculum destacado sobre a realidade africana!) terem vindo a público pôr os pontos nos ii. Em ambos os casos, nem me parece que seja por simpatia/antipatia pela personagem algarvia mas porque viveram os anos do sufoco cavaquista e conhecem o modus operandi do PR (quem quiser sentir-lhe o bafo que veja o seu descaramento quando espumava ontem que ninguém fez + do que ele pela libertação de Mandela!, ou o ar da trupe sacana das figuras gradas do PSD da altura que a SIC escolheu: Cavaco, Nogueira, Deus Pinheiro e Barroso). De chorar.
* É nesta linha, aliás, que eu apreciei a coragem do deputado António Filipe, na AR, quando levantou a questão de 1987. Ficar-se pela unânimidade institucional é desonrar a acção dos grupos de solidariedade que existiram (os abaixo-assinados, os flyers, as manifs e os sittings, as conexões típicas dos anos 80/90 anti-Cavaco, etc). Só + uma nota: e a votação da próxima segunda-feira na AR será unânime?
Não...este homem não passou de uma miragem!
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