A jogada do abelhudo desastrado

Marcelo, ao verificar os resultados das sucessivas sondagens, terá chegado à conclusão de que é improvável que um candidato à presidência da República oriundo da área do Governo tenha capacidade para atenuar a percepção que os portugueses têm das maquinações dos últimos dois anos e meio e não deixar de ser, por isso mesmo, penalizado. Sendo assim, Marcelo enfiaria todos os barretes que fossem precisos para não aparecer alinhado com o Governo. Passos Coelho deu-lhe o pretexto — não para desistir, mas para se demarcar dos estarolas.

Contudo, para que Passos possa encontrar um candidato mais dócil do que Marcelo se tem revelado, é preciso que o político-comentador-professor-jurisconsulto seja retirado definitivamente de cena. Ora, com a sofreguidão de render o “cata-vento”, Santana Lopes acabou por o chamar novamente a terreiro, ao admitir que ele “critica constantemente o governo de Passos Coelho”, “fez tudo para deitar abaixo o meu governo”, “criticou violentamente Durão Barroso”, “é hoje grande adversário [de Barroso]”, “nunca foi próximo de Cavaco Silva”, “criticou muito Francisco Balsemão de quem foi ministro” e conclui — interrogando — que sobre “Sá Carneiro, nem vale a pena falar?”

Conseguir transformar o entertainer da TVI — que anda há dois anos e meio a adocicar as medidas hediondas da direita — num crítico do Governo é o melhor encómio que Marcelo poderia receber. Santana Lopes pode vir a estragar a estratégia de Passos Coelho — e, para falar numa linguagem que não lhe é estranha, estar a meter um golo na própria baliza.