Da capitulação ante o fanatismo pós-democrático

Hoje no novo Diabo

Francisco Seixas da Costa faz um retrato acabado de Gaspar. Como decisor político, as suas escolhas submeteram-se a «um determinismo que a si próprio se impôs, porque não se permite pensar "fora da caixa", porque isso violentaria o modelo que, para si, considera sagrado, por inelutável e inescapável.» Por isso, perante a contestação social às medidas do Governo, há em Vítor Gaspar, «no fundo do rebuscado discurso, como que um indizível impulso de "mudar de povo", para utilizar o termo de Brecht.» E é assim que, sem surpresa, «o país, a Pátria, Portugal surgem sempre na "narrativa" do antigo ministro quase que como uma mera dimensão geográfica, produto de um acidente histórico, despido de qualquer afetividade, como se o esgrimir do sentimento nacional pudesse poluir o rigor da aplicação do modelo.»

É natural que uma personagem deste calibre encaixe que nem uma luva no perfil que Passos Coelho possa querer indicar para o cargo de comissário europeu. Faz impressão, porém, que afinem pelo mesmo diapasão pessoas às quais é dado tempo de antena para preencher a «quota» socialista, como Luís Amado («Não tenho dúvida de que tem esse perfil») ou Marçal Grilo («Tem seguramente três ou quatro posições na Europa que pode ocupar sem dificuldade»).

PS — Sobre o último amuo de Paulo Portas em relação a Gaspar, Estrela Serrano explica: «Em poucas palavras, Gaspar toca os traços essenciais do perfil de Paulo Portas: a “carreira” resume-se ao jornalismo; o “talento” é enorme … para a “comunicação”. Na “política”… apenas “ambição”….»