Um consenso contra o empobrecimento

O Presidente que afirmava que havia limites para os sacrifícios convoca-nos agora para aceitarmos o empobrecimento galopante durante os próximos 20 anos; o Presidente que não mexeu uma palha para incentivar um acordo em torno do PEC 4 implora agora por um consenso entre as forças políticas.

Mas que consenso quer Cavaco? O Presidente quer que o país se vergue à austeridade, que continue a suportar sucessivas doses de austeridade. Por outras palavras, Passos & Portas aproveitaram a crise para restringir os direitos sociais e laborais e Cavaco apela à colaboração dos portugueses neste caminho para o empobrecimento.

Para demonstrar que é indispensável um consenso em torno da estratégia de pauperização de Passos & Portas, Cavaco disse que estudou a situação de endividamento do país — supõe-se que, como nós, leu nos jornais —, tendo concluído que é preciso atingir até 2035 um crescimento médio nominal de 4% ao ano e excedentes primários orçamentais de 3%, valores que a economia portuguesa nunca registou.

As patéticas declarações de Cavaco à saída de uma fábrica da Nestlé mostram que ele está empenhado em colaborar no cumprimento do programa que o PSD não submeteu a sufrágio em 2011.

Acontece que os apelos ao consenso de Cavaco chocam de frente com um consenso que está a despontar na sociedade portuguesa: o consenso da reestruturação da dívida. Cavaco, Passos & Portas estão cada vez mais sós. Orgulhosamente sós.