sexta-feira, maio 09, 2014

Perguntar não ofende


«É, a meu ver, de uma ingenuidade que me não veste, aceitar a versão dos arguidos de que autorizaram as concessões de crédito nestes montantes de centenas de milhões de euros, sem jamais perguntar e saber a quem (...)», salienta a juíza Helena Susano no voto de vencida, sublinhando que «em nenhum banco isso existe».

Trata-se, como o leitor já percebeu, de uma passagem do acórdão do caso BCP, no qual esta juíza explica que crê «convictamente» que os arguidos autorizaram e sabiam de tudo desde o início e que a versão dos gestores «é absolutamente incongruente e inverosímil», não merecendo «nenhuma credibilidade».

Recorda a juíza o que se passou em tribunal: «De forma paradoxal, deparamos com os funcionários inferiores a relatar que receberam e executaram ordens, e os responsáveis superiores a declarar que confiavam nos funcionários inferiores e, mesmo sem saber a identidade e capacidade financeira da empresa financiada, autorizaram empréstimos que chegaram quase a 600 milhões de euros».

«Ou seja, na versão dos arguidos, os administradores e quadros intermédios de escalão superior concederam empréstimos às offshores para aquisição de acções BCP, em montante que atingiu quase os 5% do capital do banco, e não sabiam a identificação de a quem o concediam, porque todos confiavam no funcionário hierarquicamente mais abaixo» - acrescenta a magistrada, ironizando de seguida: «É caso para dizer que, nesta matéria primordial como é a dos financiamentos (...), a única qualidade profissional que se exige aos quadros superiores e administradores é a da enorme capacidade de confiar no trabalho dos seus subordinados!»

Perante a solidez e a força das palavras da juíza Helena Susano, cabe perguntar:
    • Carlos Costa, actual governador do Banco de Portugal e director-geral do BCP para as relações internacionais entre 2000 e 2004, não se sente incomodado com o teor da declaração de voto da referida juíza?
    • A comunicação social não encontra matéria para esclarecer?
(As passagens do acórdão vêm reproduzidas na edição de hoje do Sol, que está na fase do lusco-fusco.)

8 comentários :

  1. Meus queridos companheiros de jornada,este é o retrato acabado dos tempos que correm.Vivemos a épica glorificação dos senhores do reino dos facilitadores.Só para lembrar do que estamos a falar:"O PEDRO É QUE ABRIA AS PORTAS TODAS"
    Conclusões?Os factos, são por demais evidentes...

    ResponderEliminar
  2. Duas figuras sinistras que por si dizem tudo.

    ResponderEliminar
  3. Testemunha ocular do acidentesexta mai. 09, 03:50:00 da tarde



    Agora é tarde de mais para qualquer "manobra"! A carroça está completamente desgovernada, segue aos trambolhões pela encosta abaixo e só quando o carroceiro esborrachar a mona num pedregulho e o veículo finalmente se imobilzar no rochedo mais firme é que os passageiros acordarão da sua letargia induzida.


    Mas ninguém vai conseguir impedir que fique tudo desconjuntado, por muitas e boas eras...

    ResponderEliminar
  4. Eu acrescentaria mais uma pergunta:
    Os outros 2 juízes ( creio que são 3 juízes) são ou fizeram-se de burros?

    ResponderEliminar
  5. Anónimo sex Mai 09, 03:50:00 da tarde,

    Os juízes são o grupo mais reaccionário que existe em Portugal e julgam-se deuses.

    O cidadão comum é tratado abaixo de cão, o grande capital financeiro é tratado nos mesmos moldes em que Rodrigues dos Santos, trata o Morais Sarmento: com luvas de veludo e pinças...

    ResponderEliminar
  6. Errata: Refiro-me ao Anónimo de sex Mai 09, 04:30:00 da tarde

    ResponderEliminar
  7. Perdoem-me o pensamento mas esses juizes são as gorduras e nódoas do estado que só um ditador no governo conseguiria remover, a mal , de preferencia com espetaculo no campo pequeno.
    Estamos bem tramados para o resto dos tempos, que esta gentalha imunda, corrupta e desgraçadora dos cargos que ocupa nunca de lá sairá pelo próprio pé! Só o fará numa caixa , vestido com o fato de domingo.Foi a este estado que chegou o país pela mão ingénua, inerte e estupida da abstenção.

    ResponderEliminar
  8. .. e não é possível o MP recorrer ?

    ResponderEliminar