quarta-feira, setembro 10, 2014

Conto do vigário

• Ferreira Fernandes, Não vou discutir a baixa do IVA, não:
    «Há dias, saía eu do Hospital de Santa Maria para apanhar táxi, quando ouvi: "Olá, amigo!" De um carro estacionado, um jovem estendia-me a mão. "Há quanto tempo... Não me está a reconhecer...", disse ele. Continuei dubitativo. E ele, tirando o boné: "Está a ver? Sou a cara chapada do meu pai, você ia tanta vez lanchar com ele! O Pereira... Pereira da Silva, talvez o conhecesse como Silva. Já se lembra?" E eu: "Não me lembro. Bom-dia!"... Já fui mais rápido a reagir ao conto do vigário em fase preparatória. Um dia, no Leblon, íamos eu e a minha filha, ainda garota, felizes no primeiro dia dela no Rio. Um vendedor de lotaria deixou cair no passeio, de forma dissimulada, um bilhete de lotaria. A miúda ia apanhá-lo e devolver, quando a impedi. Chamei o dono, mostrei--lhe o bilhete e cortei o começo de conversa que já ia na oferta de alguma coisa pela minha simpatia... Sei porque me lembro disto agora, ouvi o debate, ontem, das primárias no PS. Ouvi Seguro a dizer: "E sabes porquê, António?" E dizer: "Naquele tempo havia solidariedade!" E: "O que fizeste ao PS?" Já aqui o disse: não gosto de Seguro. Não é por esta ou aquela linha política. E nem é por essa coisa que salta nos políticos quando falta, o carisma. É pela cara mesmo. O falso afeto. Isto é, por uma razão política maior. Se ele chegar a primeiro-ministro e encontrar o ministro alemão Schäuble, não quero vê-lo a debruçar-se e perguntar: "Então, como vão as perninhas?"»

9 comentários :

  1. De facto, esta é sem dúvida a crítica mais feroz feita a um político que me lembro.
    Depois disto, nada mais há a dizer...

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  2. A última frase desta bela crónica, "Então como vão as perninhas?" (de Schauble), é um desfecho demolidor. Ficou uma crónica satisfeita.

    A crónica tem destas coisas: "tem uma doidice jovial, tem um estouvamento delicioso, ela sabe anedotas, segredos, histórias de amor, crimes terríveis, ela conta tudo o que pode interessar pelo espírito, pela beleza, pela mocidade" - Eça.

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  3. Pois. Mas é preciso explicar. O To Zero não entende!

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  4. Ferreira Fernandes,como sempre,a alto nível.Já são pouquíssimos os JORNALISTAS com esta envergadura e espessura.

    Ferreira Fernandes,com poucas palavras partilhou com todos nós a tela toda.

    Como é possível que alguém,não completamente destituído de sanidade mental,possa ver num comportamento objectivamente miserável algo merecedor de qualquer referência positiva?Exceptuando os calhordas,claro!

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  5. Espero que no debate desta noite a conversa nãse limiteao Seguroo a dizer:"tu fizeste...tu não fizeste...tu tapaste o sol com a peneira...tu traíste-me...tu isto tu aquilo...". Espero que Clara de Sousa permita que se suba o nível do debate e espero que Costa não caia na esparrela de se manter à defesa ou contentar-se com o empate.Chega do politicamente correcto! Alguém acredita que um tipo que está alapado no poder do partido, se demita no dia em que ,correndo-lhe mal as coisas, não aumente os impostos? Ele é tão ou mais mentiroso que Passos Coelho. UM dia alguém do BE disse a Passos Coelho que a palavra dele valia zero. Pois eu acho que a do Tó Zero vale menos que zero pelos traços de carácter que tem vido a mostrar nestes últimos meses.

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  6. Quando Seguro disse a Costa que devia ter-se candidatado há 3 anos, Costa devia ter-lhe lembrado a cena do elevador Isto é, dizer-lhe de caretas, sem reservas, que ele, Tó Zé não deu hipótese a mais ninguém. Assim que Sócrates apresentou a demissão, o Tó Zé, já estava em frente ás câmaras de tv a oferecer-se como o sucessor. Fê-lo, que se saiba, de livre vontade e sem ninguém sequer lho pedir.Agora vem vitimizar-se dizendo que então é que 'era de homem'! Por favor António Costa, queremos que mostre a sua garra.

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  7. Que ridículo passar o debate todo a invectivar o AC: "Tu traiste, António"... Esta personalização de um debate político, esta telenovelização da discussão da liderança do PS, transformando-a numa intriga de cobardias, traições, etc, é deprimente e tacanha.

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  8. Nem os papas se põem nestas poses.

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