Passos Coelho, sempre fiel à "linha dura", a ver os dogmas em que se fundou a política de austeridade a cair uns atrás dos outros |
• Pedro Silva Pereira, Melhor que nada:
- «Depois de cinco anos de política de austeridade, a Comissão Europeia clarificou os termos em vai finalmente adoptar uma leitura mais flexível das regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Não sendo suficiente, é alguma coisa. E é certamente mais do que Passos queria.
Os dogmas em que se fundou a política de austeridade, que orientou a resposta errada da União Europeia à crise financeira, estão a cair uns atrás dos outros. Afinal, nem o mandato do BCE impedia uma resposta mais eficaz à especulação instalada nos mercados de dívida soberana, nem as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento são incompatíveis com uma política orçamental menos danosa para a economia e para o emprego .Sem alterar uma vírgula no Tratado de Lisboa ou nas regras do Pacto, o tom da resposta europeia à crise começa a mudar: primeiro, graças à política monetária expansionista do BCE (em breve reforçada com um programa de Quantitative Easing); depois, pela nova orientação da Comissão Juncker, com o seu plano de investimento (público e privado) e a sua abertura à flexibilidade orçamental.
Duas razões explicam esta evolução. A primeira, é a própria evidência do fracasso da política de austeridade. A segunda, é a forte pressão política dos socialistas em todas as frentes da política europeia: no Parlamento Europeu (em que o seu voto é decisivo); no Conselho (graças à liderança de Matteo Renzi na presidência italiana) e no interior da Comissão (desde que o socialista francês Pierre Moscovici substituiu o liberal Olli Rhen nos assuntos económicos). Não será ainda a mudança de que a Europa precisa mas é bastante melhor do que tínhamos com a Comissão Barroso - que era nada.
Finalmente, a "flexibilidade" orçamental deixou de ser um conceito vazio para ganhar sentido e substância, embora com latitude diferente para quem esteja ou não em défice excessivo. Doravante, a Comissão promete tomar em conta o contexto do ciclo económico e a realização de reformas estruturais na ponderação dos esforços orçamentais de cada país e mesmo na permissão de desvios em relação às metas do défice. Mas também promete uma política orçamental mais amiga do investimento, por duas vias: primeiro, não contabilizando no défice as contribuições dos Estados para o novo Fundo europeu de investimento; segundo, adoptando uma interpretação mais generosa da chamada "cláusula de investimento" de modo a permitir que os Estados que não estejam em défice excessivo se desviem temporariamente das metas do défice para aumentarem o investimento público. Esta evolução, embora ainda tímida e compromissória, é da maior importância também para Portugal. É certo que a nova formulação da "cláusula de investimento" não permite aos Estados em situação de défice excessivo, como é o nosso caso, isentar do défice a comparticipação nacional dos projectos financiados com fundos comunitários da mesma forma que se isentam as contribuições para o Fundo europeu de investimento - um manifesto absurdo, que importa corrigir.
Mas, além das vantagens indirectas que sempre virão para as exportações portuguesas de políticas orçamentais menos restritivas dos nossos parceiros europeus com mais margem de manobra, Portugal beneficia directamente de três importantes implicações desta nova flexibilidade: primeiro, pode desde já aceder a um calendário de ajustamento mais alargado em contrapartida da realização de reformas estruturais; segundo, as suas metas passam a ser definidas e avaliadas ponderado o impacto orçamental das quebras da actividade económica que escapem ao controlo do Governo; terceiro, a despesa pública que Portugal fizer em contribuição para o Fundo europeu de investimento não será contabilizada para o défice. Tudo isto, é claro, Passos Coelho combateu, sempre fiel à "linha dura" da austeridade. Mas de tudo isto Portugal poderá beneficiar, apesar dele.»
A única fidelidade do Passos de Coelho à linha dura, é à da ignorância.
ResponderEliminarÉ muito pouco, mesmo muito pouco. Até porque os estados que mais precisam de fazer investimento público são precisamente aqueles que se encontram em situação de défice excessivo justamente porque as suas economias estão debilitadas pelos cortes orçamentais e pelos impostos e portanto produzem cada vez menos o que se reflete na receita fiscal. Além disso o investimento promovido pela Comissão é uma fraude como bem sabemos baseada numa mobilização residual de fundos do diminuto orçamento comunitário que pretende alavancar investimento privado calculado usando um multiplicador ridículamente alto. Sobre a dívida que tanto pesa nos orçamentos de vários estados, nada. Continuamos com a política de paliativos concedidos a conta gotas para ir aliviando a pressão política que se sente a partir da insatisfação legítma dos povos europeus e dos risco de chegada ao poder de foças políticas desalinhadas. Quando é que se começam a cumprir os tratados e se adoptam políticas que promovam a coesão e a justiça social? Ou são só palavras para embelezar os textos dos tratados? Quando é que se abandona este dirigismo económico baseado exclusivamente na promoção da oferta? Do que se precisa é de políticas de emprego e de protecção dos bens públicos essenciais. Assim não vamos lá. Já se precebeu que só batendo de frente com Bruxelas e Berlim é que podemos aspirar a qualquer coisa de substâncial, o resto são derrotas mais ou menos clamorosas.
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