“O relacionamento entre o poder político e o poder judicial nunca foi pacífico, apesar das aparências. Hoje, já nem as aparências disfarçam uma conflitualidade aberta, que corre o risco de pôr em causa os fracos alicerces da nossa democracia. O equilíbrio de poderes é, por natureza, precário e a teia de múltiplos interesses tornou o escrutínio do cumprimento da lei mais complexo. Acresce que nas sociedades contemporâneas os poderes se exercem não apenas no espaço institucional, mas sobretudo no campo mediático. Aqui chegados, o ritmo da acção política e do exercício da justiça revela dificuldades de adaptação à velocidade mediática. Ficam mais a nu as dificuldades políticas de resposta às necessidades dos cidadãos. O mesmo se pode dizer de um poder judicial com meios insuficientes para atacar teias complexas de criminalidade, e de abuso de poder, e pouco habituado ao escrutínio público dos seus processos de decisão.
Perante dificuldades e estrangulamentos, a tentação de ajuste de contas está a chegar a um ponto insustentável que, a continuar assim, exige profundas mudanças. A recente revelação pelo Expresso de escutas telefónicas, juntas a um processo de sobreiros, em que alguns agentes políticos terão discutido a substituição do procurador-geral da República, é sintomática. A fuga de informação serviu para denunciar como o poder político ameaça um procurador. Obviamente que se trata de uma coincidência... De propósito, dificilmente seria mais certeira. Não é difícil perceber a quem serve a divulgação dessas escutas. O zelo imediato de Souto Moura exigindo medidas que acautelem o segredo de justiça pode contribuir para o jogo de aparências, mas pouco mais. O problema central é que, a pretexto de um qualquer sobreiro, o poder político está a ser escutado, intimidado, condicionado. E isso, por si só, é inadmissível. Isto é, o problema não é saber-se das escutas. Nem sequer é a ligeireza com que se escuta e com que se faz constar o que se escuta. O problema são as próprias escutas, a vigilância totalitária do poder político democrático travestida de investigação judicial a pretexto de um qualquer sobreiro. Será que o problema desapareceria se as escutas fossem apenas rumor, conversa de café? Ou se agravava?
Até agora, o poder judicial tem lidado bem com o contágio da suspeição da política e dos políticos, mas pouco tem feito para separar o trigo do joio.
O reforço orçamental ontem decidido pela Assembleia da República para o combate ao crime económico, corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal é uma boa notícia. Falta só que o poder judicial se concentre nas suas responsabilidades e evite a competição com o poder político.
A política está muito necessitada de ética, transparência e responsabilização. É o que falta também à justiça portuguesa. A tentativa de sequestro do poder político não é um bom augúrio.”
quarta-feira, novembro 23, 2005
Sugestão de leitura
António José Teixeira assina o editorial de hoje do DN, intitulado Sequestro. Analisa o relacionamento entre o poder político e o poder judicial. Dada a sua relevância, transcrevemo-lo na íntegra (sublinhado pelo CC):
Deve ser este o equilíbrio pretendido entre os poderes e os deveres dos magistrados. Devem... e podem! Mexe-se no subsídio de residência, mexe-se no sistema de saúde, mexe-se na produtividade, mexe-se na assiduidade.. e o resultado é este.
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ResponderEliminarAJT diz tudo duma penada.
ResponderEliminarDe facto, as escutas divulgadas em relação a uma eventual intenção do afastamento do procurador, perentóriamente desmentidas pelo PM, aliás, são nojentas. É que nada daquilo tem a ver com o processo da Portucale e dos sobreiros (as principais vítimas), por isso não se entende a sua recolha por parte do MP e, muito menos, a sua publicação nos jornais. A justiça parece um Big Brother.
ResponderEliminarEstou pasmado com o AJT e a sua sanha anti escutas.
ResponderEliminarComo se o jornal que, agora, dirige, não se envolveu num mais do que obscuro caso de violação do segredo de justiça entre os muitos dos quais há memória, "o caso MOderna" (lembram-se, Fernando Negrão, PSD).
Nessa altura não era importante, pois não?
Ou será que AJT está a fazer eco das preocupações suscitadas pelo seu amigo e candidato a PR, o cidadão Mário Alberto Nobre Lopes Soares?
electroencefalograma deste blog:
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Coitadinho do poder político. Vamos todos juntar-nos debaixo dos sobreiros e debater o que poderemos fazer para que os políticos possam cortar sobreiros à vontade sem poderem ser escutados.
ResponderEliminarSor sor juiz, ainda lhe cai a bolota na cabeça. Já declaraou a adesãoà greve para lhe ser descontado no vencimento ?
ResponderEliminarO anónimo das 07 e 47 tem toda a razão.
ResponderEliminarParece que a maior parte das pessoas ainda não percebeu qual a finalidade deste blogue.
Dividir para reinar.
Pobres políticos, como nós vos percebemos
Estes são aqueles que:
ResponderEliminarRecebem subsídio de renda e não pagam impostos?
Fazem greve e não descontam? Trabalham e não se nota?
Têm direitos e não deveres?
Fazem greve e não declaram?
Fazem excursões para além das férias judicias? VERGONHA É COMO A DO CÃO.
Miguel, o Especialista Instantâneo em Justiça, Reformas, Função Pública, Insultos, Comentários Anónimos, Ética, Transparência, Responsabilização, Rabdomância e Tudo, o celebrado Arúspice falou...
ResponderEliminarPlebe, levanta-te e aplaude...
Avé Caesar, morituri te salutam...!
Já encontraram o jogo do xadrez ou continuam á nora ????
ResponderEliminarÉ mais À sogra...!
ResponderEliminarCaro Miguel:
ResponderEliminarPode corrigir, no próprio post, o seu "lapso", em:
http://corporacoes.blogspot.com/2005/11/professores-em-luta-1.html
Obrigado...