domingo, maio 28, 2006

Os cordeiros também se abatem [4]

Parafraseando jcd, como se avaliam os Ganhos e Perdas desta revolução no sector dos medicamentos?

Em primeiro lugar, ganham os consumidores:

    • Maior facilidade de acesso às farmácias (que a Autoridade da Concorrência quantifica);
    • Potencial redução de preços (que a Autoridade da Concorrência estima em cerca de 145 milhões de euros/ano, com base em dados de 2002);
    • Aumento da qualidade de serviço (alargamento do horário de abertura das farmácias, exigência de formação profissional dos farmacêuticos a expensas das farmácias, aumento do número de licenciados em serviço nas farmácias [50 por cento dos efectivos dentro de cinco anos], etc.).
Em segundo lugar, ganham os contribuintes. A redução de preços repercutir-se-á necessariamente numa diminuição da despesa pública (Serviço Nacional de Saúde).

Em terceiro lugar, veja-se o que acontece com as farmácias:

A redistribuição dos lucros por um maior número de estabelecimentos significa que vai caber uma fatia menor a cada um. Acresce que, se se verificar uma redução dos preços, é provável que os lucros também diminuam em resultado disso. Resta saber se a possibilidade de as farmácias assumirem outros segmentos de negócios (v.g., venda de produtos veterinários) compensa a perda de quota de mercado e a redução de preços.

O que antes se disse e, ainda, a possibilidade de poderem instalar-se outras farmácias a 350 metros de distância não parece permitir que se infira que a nova realidade trará uma valorização acrescida dos alvarás.

A situação da ANF é diferente — e nem jcd, João Miranda ou AAA (que, hoje, tem estado ocupado com o Opus Dei) se referiram à circunstância de que os interesses da ANF não são totalmente coincidentes com os das farmácias que representam — e a ANF até pode ser a entidade que, num certo sentido, menos perde com o tufão que varreu o sector dos medicamentos. Fica para amanhã.

6 comentários :

  1. CORDEIRO FOI UM LEÃO

    1) Liberalização da propriedade das farmácias
    Possibilita o acesso à propriedade de não licenciados em farmácia.

    2) Não-liberalização da abertura de farmácias
    Impõe fortes restrições à abertura de novas farmácias através dos critérios (a) capitação e (b) distância mínima entre farmácias.

    A conjugação das medidas 1) e 2) faz aumentar de forma muito significativa o valor de mercado das farmácias existentes, pois assegura o aumento do número de compradores potenciais das farmácias para uma oferta deste tipo de empresa retalhista que permanece escassa.

    Com efeito, o aumento potencial de 300 novas farmácias que o novo regime de condicionamento (reconhecidamente anacrónico) permite é marginal em face do universo de farmácias existentes e não altera este cenário de escassez da oferta.

    Acresce que em muitos centros urbanos a conjugação dos critérios capitação e distância mínima entre farmácias não irá permitir a abertura de uma única farmácia, o que reforçará o valor de mercado das farmácias aí existentes.

    Parabéns à ANF e ao Presidente Cordeiro por mais esta vitória negocial sobre o Governo !

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  2. Caro Miguel, vai-me desculpar mas não faz a mínima ideia do que está a dizer.
    Não conhece o real, o concreto.
    Há muito pormenores ainda desconhecidos mas que contam. Que contam muito.

    Por exemplo, de quem é a iniciativa de instalar as novas Farmácias? Dos proprietários ou do Estado através de um concurso? É muito diferente...

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  3. É espantosa a cegueira destes "liberalizadores". Quando deixarem de ter farmacias de serviço, funcionarios sem formação e farmaceuticos só ao fim da tarde, veremos como vão comportar-se. A verdade é que a destruição do sector e a cedencia ao lobi dos supermercados não augura nada de bom...

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  4. Vai, Miguel...
    A possibilidade de... poderem!...
    Tás óptimo.
    Mas podes sempre melhorar...

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  5. Farmácias (3)
    A reforma do regime da farmácia foi formalizada num inesperado acordo formal entre o Governo e a ANF. O aval dado pela associação empresarial das farmácias à reforma pode parecer surpreendente, visto que algumas das medidas anunciadas sempre contaram com a sua oposição. Porém, analisado o acordo em todos os seus aspectos, a posição da ANF faz todo o sentido.
    Na verdade, a ANF só deixou sacrificar os anéis de nobreza (nomeadamente o exclusivo da propriedade farmacêutica) para preservar o essencial, ou seja, a continuação do racionamento do número de farmácias e, portanto, os confortáveis proveitos que as situações de restrição à liberdade de estabelecimento e à concorrência asseguram.
    Além disso, a ANF ainda conseguiu para os donos das farmácias alguns bónus não despiciendos: a concessão das novas farmácias dos hospitais, um considerável alargamento da área de negócios das farmácias, a possiblidade de acumular quatro farmácias (hoje cada farmacêutico só pode ter uma), etc.
    Se pensarmos que a reforma poderia (e deveria) ter sido bem mais profunda, sem nenhuma concessão em troca, é evidente que a ANF não somente limitou os danos como conseguiu valiosas contrapartidas. É caso para dizer: parabéns Dr. João Cordeiro!
    [Publicado por vital moreira] 28.5.06

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  6. CORDEIRO FOI UM LEÃO
    No seu blogue "Causa Nossa" Vital Moreira (cf. transcrição no comentário de Seg Mai 29, 12:58:27 PM) deu os parabéns ao Dr. João Cordeiro.

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