domingo, junho 18, 2006

“A isto também se chama corrupção moral”

O juiz Rui Rangel escreve sobre Justiça desportiva. Nada que já não tivéssemos dito:

    'Em “Itália, a isto chamam-lhe máfia e camorra ”. Esta declaração foi proferida por um juiz da Comissão Disciplinar da Liga, criticando a decisão da Comissão, que manteve na Liga o Gil Vicente, em virtude de o filho de um dos dirigentes deste clube, que é curiosamente advogado, ter votado nesse sentido e forçado a alteração da decisão, com voto de qualidade do presidente, que é também juiz.

    (…) O que é preocupante neste lamaçal em que está mergulhada a virtual justiça desportiva é ver três juízes metidos nesta trapalhada, o que em nada dignifica a Justiça que representam, aceitando fazer parte de um sistema fechado, que veda o recurso aos tribunais. Os juízes que fazem parte dos órgãos de justiça e de disciplina, quer da Liga, quer da Federação, são uns “paus mandados” dos dirigentes destes organismos ou dos clubes que aí estão representados.

    O sistema tal como está montado visa dar uma aparência de legalidade e de imparcialidade, servindo-se dos juízes como capa dessa imagem pública, que os senhores do futebol pretendem passar para a sociedade, de forma a melhor servir as suas “negociatas”. A isto também se chama corrupção moral. É preciso acabar com este escândalo, devendo os juízes ficar impedidos de fazer parte deste ‘polvo’ enquanto o sistema assim permanecer.

    Se querem uma justiça desportiva a sério, doa a quem doer, então, crie-se um Tribunal de Justiça Desportiva, com regras de funcionamento diferentes e nomeações de juízes feitas pelo CSM. É o único sistema transparente, que retira os juízes dos tentáculos desse ‘polvo’, que os tolhe até à medula da sua dignidade. Espero que o CSM, não fique à espera das queixas tradicionais para depois reagir, mas que, por iniciativa própria, acabe de uma vez por todas com esta vergonha, não permitindo que os juízes façam parte “da máfia ou da camorra”.

    Uma última palavra para a Ordem dos Advogados, no sentido de explicar publicamente como é que um advogado, que tem deveres éticos e deontológicos, participa numa votação, com interesse directo.'

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