sexta-feira, maio 02, 2008

O Paradoxo do Ornitorrinco [4]




De um mail enviado por Nuno Miguel S.:
    “Todos os blogues, incluindo o seu, se divertiram com o episódio de Pacheco Pereira a fazer turismo político. Mas todos, incluindo o seu, se esqueceram de analisar politicamente o significado daquela fotografia.”
E, mais à frente, questiona o leitor:
    “Porque é que Pacheco Pereira não se juntou aos notáveis e se deixou ficar pelos jardins? Chegou atrasado? Mas ele tem uma vida tão atarefada que não possa estar a tempo na apresentação da candidatura de Ferreira Leite? Não se tratou, uma vez mais, de uma forma diletante de estar na política, que é de resto o grande segredo de Pacheco Pereira, comportando-se junto dos jornalistas como político e na política como uma alegada mais-valia no jornalismo?”
Pode ser que o leitor tenha razão. Mas o relato dos jornais mostra um Pacheco Pereira exultante com Ferreira Leite:
    “Até o improvável Pacheco Pereira se entusiasmou. Durante o segundo discurso, lançou uma salva de palmas colectiva — na frase "O seu resultado [das eleições] é decisivo para o nosso futuro" — e enquanto abana a cabeça em sinal de aprovação, vai tirando com o telemóvel fotografias da companheira que fala, com o mesmo tom (baixo) de voz, nas escadas do palacete.” [Diário Económico, 29.04.2008]
E este comprometimento de Pacheco é tanto mais de realçar quanto a candidatura de Manuela Ferreira Leite contraria tudo o que o político/comentador/historiador/professor andou a pregar nos últimos anos, como aqui recorda Paulo Gorjão, ao recuperar excertos de um seu artigo no Público [“A única oposição possível é a liberal”, 29.06.2006).]:
    “Pode-se, sobre o governo Sócrates, fazer dois tipos de críticas: ou dizer que faz bem mas faz pouco (que é a linha que de alguma maneira a própria Manuela Ferreira Leite sugeriu no congresso do PSD); ou entender que o que é necessário é fazer de outro modo, muito diferente. Só haverá verdadeira oposição quando se combinarem os dois termos, com preponderância do segundo.
    (...)
    O que Sócrates tem feito é defrontar a crise do Estado-providência propondo remédios que atrasam o seu colapso. Não o põe em causa, nem contesta a sua forma, concorda com ele por razões ideológicas. Várias vezes afirmou que essas medidas de austeridade têm como objectivo último garantir a "segurança social" para os portugueses e, com uma oposição que não contesta o essencial da sua atitude, faz o mal e a caramunha, ou seja, governa como governaram Barroso e Lopes e, mesmo aos olhos de muitos opositores do PS, com a vantagem de o fazer melhor do que os seus imediatos antecessores sociais-democratas.
    (...)
    O que significa que a única oposição possível é a liberal.”
Imagine o leitor Nuno S. como terá reagido hoje Pacheco Pereira quando, ao folhear os jornais, soube que Ferreira Leite foi apresentada na sede da distrital do Porto assim: “Não somos liberais, somos de centro-esquerda”. Ele que tanto se esforçara para se desembaraçar desses pecadilhos de juventude.

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