sábado, fevereiro 27, 2010

Leituras [1]

• Manuel Caldeira Cabral, Será que a informação é L.I.V.R.A?:
    Será que a informação em Portugal é L.I.V.R.A, isto é Livre, Isenta, Verdadeira, Relevante e Aberta? E se não é, quem é que a condiciona? Em que sentido é que é enviesada? Porque é que tantas vezes é pouco rigorosa? Porque é que tanta informação irrelevante enche os nossos noticiários e jornais? Porque é que as pessoas citadas são quase as mesmas há mais de 20 anos?

    Um dia antes do arranque da vaga de notícias sobre liberdade de expressão em Portugal dei uma entrevista a um jornalista holandês radicado em Madrid. A sua opinião era a de que sendo a situação económica em Espanha pior do que a de Portugal (devido ao nível de desemprego e à bolha imobiliária), era estranho que as notícias em Portugal sobre a economia portuguesa fossem tão mais negativas do que as que se publicavam na imprensa espanhola sobre a economia daquele país.

    Esta visão é contraditória com a ideia de uma imprensa controlada pelo Governo. Se o Governo português controla a imprensa, porque é que esta é tão crítica e tão negativa face à economia e ao próprio Governo?

    O trabalho dos meios de comunicação está à vista. Pergunto se perante a predominância de comentadores pessimistas e o tom negativo que domina os noticiários portugueses alguém tem coragem de dizer que a nossa imprensa pinta a realidade de cor de rosa?

    Quer isto dizer que a imprensa portuguesa é totalmente livre de pressões? É óbvio que não. Nenhuma imprensa é. Em todos os países existem pressões. E vêem de vários lados: dos partidos, dos sindicatos, das empresas, dos proprietários dos jornais, das agências de comunicação, dos restantes jornalistas e, é obvio, também dos governos. Os jornalistas têm de saber lidar com todas estas influências.

    Os jornalistas têm também que colocar pressão sobre o Governo e os outros centros de poder. A verdade é que há grupos na sociedade relativamente aos quais a imprensa é branda. Basta ler as entrevistas de charme feitas a alguns empresários ou a forma acrítica como são aceites argumentos de grupos de interesse, de sindicatos ou de ex-ministros, e compará-la com a agressividade das entrevistas que lhes eram feitas quando eram ministros, para perceber que assim é.

    É saudável que existam diferentes linhas editoriais, diferentes opiniões, diferentes perspectivas. Mas, em alguns casos, esta diversidade parece desaparecer.

    (…)

    Conheço demasiados jornalistas inteligentes e sérios para perceber o desconforto com que muitos vivem com uma situação pouco saudável, mas cada vez mais frequente, de haver apenas um tema, um formato, uma perspectiva ou uma opinião a dominar todo o espaço informativo.

    O facto de os meios de comunicação social se centrarem tantas vezes num tema único tem consequências. Em muitos casos aliena o público, distrai o País, deixando decisões importantes noutras áreas sem discussão. Noutros, o arrastar dos casos, mesmo sem novos dados, contribui para um desgaste pouco saudável das instituições.

    (…)

    Eu nunca quererei uma imprensa que para ser patriótica seja menos crítica ou até elogiosa do País. Esse não é o papel da imprensa. O papel da imprensa é o de dizer a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Mesmo que essa verdade seja inconveniente. Mesmo que seja positiva. Mesmo que esteja fora da caixa do tema único. Mesmo que vá contra a corrente. Mesmo que não seja simples. Mesmo no caso em que esta possa ilibar alguém que todos tratam como culpado antes de ser condenado. Mesmo que obrigue a contradizer um pessimista.

    Hoje parece que a muitos falta coragem para o fazer. E a falta de coragem é onde começa a falta de liberdade.

2 comentários :

  1. Basta ver como é tratado o Carlos Anjos da PJ... Com pinças, se não lá se vão as aturadas investigações jornalísticas.

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  2. A direita, ou melhor, aquilo a que se convencionou chamar a direita em Portugal, há muito que está convencida não conseguir chegar ao poder através da luta politica escorreita, ou seja pela força das suas ideias e convicções. Nem pela conjugação de votos CDS/PSD, muito menos através de um único partido, no caso, o PSD.
    Dispondo de um vasto conjunto de meios de informação disponíveis, recheados de jornalistas cuja ascensão na carreira depende da boa vontade dos detentores destes grupos, para não referir o vasto conjunto de precários, tem recorrido a campanhas sistemáticas de manipulação da opinião pública visando arredar do poder aqueles que se oponham à histórica subjugação do Estado aos seus interesses. O canal público de televisão não escapa a esta influência, pois está controlado por poucos jornalistas, que, seja por razões familiares, de proximidade partidária ou para escaparem à acusação de falta de «isenção», transformaram-se em câmara de eco da corrente dominante. Usam a conhecida técnica de acusarem o adversário ou inimigo político daquilo que eles próprios promovem.. Com um sucesso muito relativo no segundo caso, pois apesar de tudo as sondagens não lhes são favoráveis. Mas insistem através da exploração ad nauseam do método. As audições na AR sobre a liberdade de imprensa Com esta técnica, arrasaram Ferro Rodrigues e Paulo Pedroso e, desde 2005, ensaiam o mesmo com o PM são um pretexto para manter a pressão.
    Todavia, a sua estratégia está eivada de um erro de análise grave. Em democracia, os representantes do povo são eleitos através do voto e não estão sujeitos ao plebiscito de jornalistas que, na maior parte das vezes, não conseguem libertar-se dos interesses dos respectivos patrões por mais que o apregoem. Para mudar de governo, no caso em apreço, existem os seguintes mecanismos: moção de censura, moção de confiança e dissolução do Parlamento pelo PR. Sabe por que a primeira e terceira não são utilizadas? Porque têm medo de o actual PM merecer novamente a confiança dos portugueses.
    No recato da mesa de voto, a população decide com sentimentos, percepções e simpatias que não são totalmente controláveis. Um dos «problemas» de um regime democrático.

    Quem percorre os jornais na net vê como são apreciados os poucos jornalistas que lutam para manter a decência.

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